O rio corre tranquilo, na praia serena
junto à orla barcos descansam
e as árvores se agigantam
para trazer a sombra ao dia soalheiro.
Cantam os pássaros num ramo qualquer
borboletas esvoaçam com a brisa
e os jardins estão tão coloridos
que as flores e as plantas se confundem.
Pontos negros indiciam o fumo das fábricas
sombras colam-se ao gume dos muros
passeiam-se gatos com fome
perscrutando a caça que se evidência.
Reflectindo a luz solar intensa a esta hora
os vidros das casas queimam ao toque
e as bambinelas estão corridas, quase fechadas
sombreando o quarto cá dentro.
Enquanto isso escrevo palavras ao acaso
sem no entanto deixar de pensar nelas
no seu sentido oblíquo e desgarrado
com que se vão firmar na folha consentimento.
Escrevo um poema sem rimas mas ritmado
ao som que se evapora lá fora na canícula
e meus dedos são ampolas de sangue
que vertem sentimentos e sentidos citadinos.
Passam carros lá mais em baixo junto ao mar
pessoas banham-se nas ondas azuladas
e as crianças fazem uma algazarra
quando os golfinhos resolvem passar por ali.
É hora do almoço, todos se juntam enleados
uns nos outros e após vão-se deitar
que a sesta é uma festa para os olhos
cansados, no descanso dos guerreiros do asfalto.
Jorge Humberto
25/05/11