Na noite dos meus quinze anos
Todos foram dormir mais cedo.
Minha mãe cantou uma canção de Noel Rosa
Que nada tinha a ver comigo.
A noite dos meus quinze anos
Foi igual a todas as noites,
Crivada de sonhos,
Molhada de intensas poluções.
No dia dos namorados eu havia comprado para ela
Um vidro de leite de rosas
Que permaneceu sobre o guarda-roupa
Tanta era a minha timidez.
Na noite dos meus quinze anos
Presenteei-me com aquele perfume
Jurando que um dia lhe daria em troca
Todos os reinos do mundo.
Até o meu ingazeiro,
Gladiador das noites de chuva,
Murchou a folhagem
Sugando da terra todos os sorrisos.
Na noite dos meus quinze anos
Eu era triste e não sabia
Senão teria feito um acróstico com o nome dela
No tronco do ingazeiro.
Teria cortado o vento com o aço dos meus sonhos,
Teria tecido uma rede para embalar o seu corpo,
Teria lustrado os botões da minha farda
Para gravar sua imagem em cada parte de mim.