Quero mas não sei como afirmar-me No meio das gentes Daquelas todas que querem tudo E não sabem como um querer Se movimenta no seio do mundo
Quero mas não quero nada Que venha a quebrar as vozes Dos mais afoitos Devotos no seio materno Onde o corpo se faz vida E a vida se faz corpo com corpo
Quero mas não posso imaginar-me A escalar montanhas Sobrevivente dos holocaustos Onde as gentes se agitam De olhos fechados E de braços abertos Espalham as notícias Do seu pequeno mundo E de boca em boca Tentam animar os céus
Quero mas sem saber De um verdadeiro querer Que nasce no olhar De quem perdeu o nome Nas bocas de quem Se escondeu da fome Nos corpos de quem quer saciar O mais duro querer Nos escombros onde se ajeitam Todos os moribundos da terra Todos os saltimbancos Na falésia do seu próprio corpo Onde cresce o medo Esse buraco a crescer Nas pupilas dos seus olhos