Tantas e tantas vezes penso, repenso,
Nos mistérios que cercam as vontades,
Dos corações e mentes humanas.
Tão diverso o querer, tão disperso o tino,
Descaso frente às semelhanças proseadas,
Insensatez que contraria as promessas,
Cada qual com seus motivos justificados.
Na selva habitam bichos, desalmados bichos,
Que simplesmente vivem por viver e vivem
E os chamamos de impensantes, insensíveis,
Mas se contentam em viver e até partilhar.
Cobra não engole cobra, na selva de verdade,
Já entre concretos, asfalto, vitrines e gabinetes,
Homem engole humano buscando só a vitória,
Animalesca busca por ter além das necessidades.
Repenso meus conceitos e me perco na ignorância,
Justifico atitudes minhas e dos meus semelhantes,
Por conta das necessidades de garantir o porvir,
Mas não encontro lógica na ganância da fortuna.
Não vejo nas matas, animal morrendo de fome,
Ao lado doutro que vangloria a vaidade do ter,
Já na urbanidade hipócrita, humanamente vil,
Vejo homens com cofres cheios e corações vazios,
Respirando o mesmo ar dos meninos famintos,
E pais que sofrem pelas crias temendo a inanição.
E penso, repenso, certo que não entenderei jamais,
Restando a certeza de que embora seres pensantes,
Supostamente inteligentes e sociáveis nos verbos,
Sobra-nos imbecilidades ausentes nos irracionais,
Forjado no desequilíbrio da própria inteligência,
Que fomenta a ganância, sede infinita do ter mais.
EACOELHO