Ah! este Tempo etéreo e hierático a me impor lembranças e propor destinos.
Este Tempo agonia que me alheia a voz quando estou sozinho.
Um Tempo de palavras roucas... loucas... a dizer-me coisas com as quais eu não atino.
O Tempo afoito, nau sem vela e sem razão, que conduz, por entre nevoeiros, o meu coração.
Intuo este Tempo, máscara da mentira, que julgo passar por mim quando sou eu quem passa por ele.
Soa, ao longe, este Tempo de renúncia e de exílio em cujo pórtico ouve-se o diáfano prelúdio da tua ausência
Freme este Tempo de silêncio que engenha sombras no canto que embala a minha própria dor.
Cerram-se os olhos do Tempo que nas noites choram a minha solidão.
Fito este Tempo que em cada manhã me sugere, imarcescível, uma nova possibilidade para ser feliz.
Ah! o Tempo... este instante precário e denso, cativo e límpido, onde a alma flamejante engendra o engano de existir.