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Cismo o sereno silêncio:
sou: estou humanamente
em paz comigo: ternura.
Paz que dói, de tanta.
Mas orvalho. Em seu bojo
estou e vou, como sou.
Ternura: maneira funda,
cristalina do meu ser.
Água de remanso, mansa
brisa, luz de amanhecer.
Nunca é a mágoa mordendo.
Jamais a turva esquivança,
o apego ao cinzento, ao úmido,
a concha que aquece na alma
uma brasa de malogro.
É ter o gosto da vida,
amar o festivo, o claro,
é achar doçura nos lances
mais triviais de cada dia.
Pode também ser tristeza:
tranquilo na solidão macia.
Apaziguado comigo,
meu ser me sabe: e me finca
no fulcro vivo da vida.
Sou: estou e canto.
Thiago de Mello, poeta brasileio. In: Faz escuro mas eu canto, 1999, Bertrand Brasil, 17ª edição.