A poesia ganhou mais um nome
Pariu mais um filho sem a ajuda de parteiras ou beatas
Novas palavras têm agora os pensamentos
Para desmistificar a alegria e a dor
Chamo-lhe Mito porque existe para lá do que não se vê
Chamo-lhe Poeta porque um dia calculou a sede dos vivos
Em cada verso seu existe uma fase da lua a subir-nos à cabeça
Em cada rima sua existe um ocultismo que se revela
Em cada sílaba existe um céu verdadeiro dentro das bocas
“A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos”
A alegria ressuscitou os pássaros que voavam nos teus cabelos
E, ambas, tornaram a claridade possível nos corpos acetinados pela Loucura
Chamem-lhe todos os nomes mas o primeiro é sempre o de poeta,
o conhecedor da luz que pelos seus dedos rompe a escuridão
e faz-nos chegar um samba ao peito.
Chamo-lhe Irmão porque tem braços que se encarregam de abraçar
Chamo-lhe Amigo porque disse-me um dia que Sim antes de eu perguntar
José Torres, Ilídio também, a carne lírica da palavra,
o quarentão que, se deus quiser há-de ser centenário e, na poesia: eterno.
É meu amigo, meu colar ao peito, meu frasco de remédio santo,
minha piela literária, meu óleo no motor, meu achado divino.
As tuas palavras são como a fruteira que tenho sobre a mesa:
Como-as sem lhes tirar a casca, sem pedir conselho, sem nunca azedar.
Assim é a tua poesia: um cesto de uvas que vou penicando, penicando,
até inchar de consolo, com sementes que saem da boca que dá para plantar
de novo numa página da terra e, outro livro umbilical será fruto dos teus poemas.
Achámo-nos na infância, perdemo-nos nos entre aspas da adolescência e voltámo-nos a encontrar no parapeito que o destino construiu pela força de sermos homens.
Falavas das gaivotas que correram o mundo,
dos pionés que punhas na cadeira daquela gorda professora,
dos assaltos às videiras, da primeira vez que rapaste o bigode e decidiste que ias ser homem, que já sabias qual a cor da liberdade.
Lembro-me de ti a sorrir, o Tom Saywer que eras, ganhando bónus nos flippers de cigarro na boca e eu, à porta do café, tomando conta a ver se vinha o teu pai.
Sempre ganhaste, sempre deste a ganhar.
Eu ganhei contigo, os que te pertencem e se abeiram a ti, ganham.
Ganha a poesia, ganha a arte, ganha quem te lê e quem te escuta.
Chamo-lhe Ser raro porque deus está fazendo poucos
Chamo-lhe Filósofo porque o é
Chamo-lhe Sedutor porque tem um riso disponível
Chamo-lhe Vida porque a sua palavra vive para viver.
Entendes agora porque é que te convidei para fazeres parte da minha prosa?