Eu já fui uma criança de África...
Eu já vi as chamas,
as labaredas do nosso sentimento;
A solução que a humanidade inflama
no incêndio do mundo sem entendimento.
Já vi as crianças de África,
Já vi a sua desolação;
Eu já fui uma criança de África
sem ter essa cotação!
Já vi os comerciantes de rua,
Sorridentes a impingir bens roubados,
Já vi o artista, malabarista que flutua
alegre, de bolso vazio e os polícias incomodados.
Já vi os mendigos mendigando,
Já sublinhei a sua tristeza dizendo não;
Já encontrei a sua pobreza m'enganando,
O sonho destroçado de alguns que vão.
Já vi os refugiados sob o desabrigo da chuva,
Almas mortas à espera de salvação;
Já vi, mas tenho a visão turva,
Coração palpita mas ignoro a sua condição!
Já fui uma criança de África
sem ter essa cotação...
Desculpem-me se já vi mas não sinto,
O frio dos outros não me preocupa
A minha alma está abrigada, não minto,
Olho apenas no ecrã o meu reflexo, peço desculpa...
Eu já vi as chamas,
as labaredas do nosso desentendimento;
A isolação que a humanidade inflama
no incêndio do mundo sem sentimento!