Ela acordou cedo, embora estivesse de férias. Não porque tinha um compromisso, não porque a obrigaram, e sim porque o sol brilhava lá fora, e ela achava um desperdício não aproveitar o calor - embora nunca tivesse sido a maior fã do sol.
Não estava com fome, como em todas as manhãs, mas comeu apenas para agradar a mãe. Afinal, o que tem de errado em fazer um pequeno sacrifício para ver alguém feliz?
Foi para o quintal, e deu banho no cachorro. Saiu mais molhada que ele, mas não se importava. Ela ria, porque era extremamente reconfortante estar molhada no quintal de casa, com seu bichinho de estimação, enquanto o sol quente tocava a sua pele.
Entrou em casa, e não se incomodou em responder quando os pais perguntaram o que acontecera. Apenas sorriu, e disse a eles que havia chovido só sobre ela. E afinal, não era uma mentira; havia chovido felicidade sobre aquela garota.
Arrumou seu quarto, ouvindo Pitty e Cazuza - e arrumação ficou revoltada e fora dos padrões como as letras das músicas daqueles que ela admirava. No entanto, era o seu jeito, e aquela era a sua arrumação. Sendo assim, ela não se importou quando a mãe a repreendeu por não ter separado as roupas pretas das cor de rosa.
Passou a tarde com a família, e ficou feliz em brincar com a priminha. Deixou que ela pintasse suas unhas uma de cada cor, e a maquiou como uma princesa. Se sujou de terra, brincou com água, tinta, e tudo que sabia que a tia não aprovaria que fizesse com a garotinha. Voltou a ser criança.
Pediu segredo e se arrumaram antes que os pais das duas voltassem. Sorriu secretamente, ao encarar as unhas muito coloridas, e relembrar da tarde boba, sendo criança com uma criança.
Descobriu que não precisava de tanto para ser feliz. Que apenas a simplicidade bastava. Descobriu que ela sempre fora feliz. Ela tinha os melhores amigos, a melhor família - ainda que com algumas excessões, nas quais preferia não pensar -, e o mais importante, os melhores sentimentos. Apenas não havia percebido isso antes.
Por fim, entrou na internet - algo que não passara por sua cabeça durante o dia inteiro. Seria uma injustiça não compartilhar sua felicidade com os amigos. Reais e virtuais.
Julielen Fernandes