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Mendigo Imundo

 
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Estava sempre sentado à porta daquele salão de compra de brinquedos para crianças, via as mães acompanhá-las, entrar e desfazer-se nas luzes no fundo daquele longo corredor.
As mães, ingénuas, viam o seu olhar de anseio, pensavam que se encaminhava-se directamente para elas, engano.
Aqueles olhos examinavam as crianças que por ali passavam, não eram poucas, aquele cheiro infantil incomodava-o, mas não era um incomodo mau, sabia-lhe bem, carne tenra, delicioso.
Um dia teve coragem. Estava sol, as crianças entravam por ali a diante com as mãos dadas às suas mães, queriam ver os brinquedos, tocar-lhes, comprá-los, leva-los para casa e pentear-lhes os cabelos ou então pô-los a andar enquanto lhes ecoava um "vruummm vrrruummm" na mente. Ele apanhou uma criança que se encontrava perdida naquele edifício cheio de sonhos.
Era uma menina, com os seus seis anos, tinha os cabelos loiros e um abismo azul nos olhos. Levou-a, sim, levou-a para um beco dizendo-lhe que ali haviam mais brinquedos, mais sonhos, mais horas para lhes poder tocar, mais horas para pentear as bonecas, dar-lhes de comer e pô-las a fazer a sesta.
Brincou com ela, ensinou-lhe um jogo em que se tinha de despir, ambos o fizeram, ela achou piada, ela brincou enquanto ele lhe tocava.
Sentiu o seu corpo miúdo, magro, a pele macia e inocentemente perfumada, os seus ossos, onde passava com as mãos e oprimia o pequeno corpo de menina contra o seu, penetrando-o obsceno.
Ela queria gritar, ela queria a mãe, a mãe não estava, a mãe estava morta na sua mente, a mãe ia morrer outra vez quando soubesse, pobre mãe morta.
Ele largou-a, ela fugiu nua pela rua até chegar à porta do pesadelo dos brinquedos onde via os meninos e meninas da sua idade entrarem e perderem-se em sonhos. Ele vestira-se e caminhara rapidamente para o desaparecer.
As pessoas admiravam-se com a criança nua. Ela dera pela mãe junto a um policia que se encontrava perto.
"que te aconteceu, meu amor? porque estás assim? as tuas roupas?" - perguntou a mãe, amedrontada.
"Vestias às bonecas, mãe, vestias às bonecas."

Ele fugiu, procurou outro vale de sonhos.


les fleurs mortes.

 
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Fleur
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