Não só da crítica pela crítica, deixo isso para quem nada mais tem a fazer, sequer descobrir para que serve a massa encefálica que possui. Há que lhe dar uso, mas não através de bocas às quais se somam mais bocas e, em suma, só criam ruído e nada mais. Nada se acrescenta. Criticar implica, na minha perspectiva, apontar soluções.
Ora bem, vamos para o que interessa: um dos aspectos fundamentais para que Portugal de novo se (re)erga como Estado e Nação, é o saber recuperar um dos valores mais relevantes, um dos valores que nos acompanhou em quase todo o nosso devir histórico: o mar; valor este de que, de quando em vez, nos temos afastado, mas que é a essência do Ser Portugal e, consequentemente, do Ser Português.
É do conhecimento de todos que o mar foi primordial no desenvolvimento do Portugal inicial. Se, primeiramente, este se tornou fronteira a oeste e a sul, depois assumiu-se como ponto de partida para uma aventura, uma aventura levada a cabo por um milhão de habitantes, sublinho: um milhão; e que nos levou aos múltiplos recantos do mundo.
Também o mar se tornou em porta para múltiplas trocas comerciais, mas mais do que isso, como meio para a divulgação da Língua e da Cultura.
Amiúde se esquece da História; amiúde se coloca uma pedra sobre o passado; amiúde se considera que o mar é algo associado a tempos idos, pelo que outros deverão ser os ventos. Estas atitudes são, de facto, retrógradas, redutoras, castradoras da possibilidade de Portugal quase direi renascer.
Este é, a meu ver, de uma forma naturalmente simbólica, a nossa manhã de nevoeiro: o saber que Portugal só o é de facto se possuir o mar como parte fundamental da nossa missão no quadro das nações.
Portugal, quer agrade a quem é saudosista ou se desagrade a quem vê na União Europeia o futuro, é um país, e uma nação, sobretudo atlântica. Isto é: o mar, mesmo que tenha escrito páginas da nossa História, quer pelos Descobrimentos, quer pela Descolonização, permanece como elemento essencial do nosso devir.
Na minha opinião, não numa ideia isolacionista, mas de cariz integrador, de capacidade de interagir com as outras nações ou, para que o termo nos surja mais adequado, com os demais Estados, a solução não passa somente pelo espaço europeu, antes por uma política que respeitando, tire proveito, desse que não se constitui hoje como fronteira, mas como uma janela plena de oportunidades.
Há que meditar sobre o que fazer para o rentabilizar de uma forma sustentada de algo que, embora não possua aqui os números exactos, muito seguramente decuplica a nossa dimensão como “terra”.
Portugal tem tudo para ter futuro, não um futuro qualquer, que esse está sempre garantido, mas um futuro pródigo. Para tal, basta que exista uma política capaz de impulsionar esta dimensão quer numa vertente ambientalista, quer cultural e, necessariamente económica.
O mar, para além do que comummente estamos habituados: pesca, transportes ou lazer; tem, também, um enorme potencial energético, de recursos minerais, entre muitos outros.
Portugal, pela sua condição geográfica, só pode, e deve, olhar para dentro de si e não ter vergonha do que é, antes saber tirar proveito do que possui.
Xavier Zarco