...Navalha fria
De fino fio
E corte de mestre.
Rasgas com com irreverente corte
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Este instante de inverno e frio...
E como ficam amargas tuas gotas "doces "
De gota em gota encharcas-me o peito
E molhas a lama que transparente envolves...
É FRIO ESTE INVERNOSO TEMPO
Em que me deito na espera da noite
Para fugir do arrepio
Que o silêncio traz...(atrai)
São imensos, os vagos que me abres nas veias,
São negros, os fios dos meus cabelos ...
São como os sorrisos que perdi
As rugas que me decoram hoje a face e dizes ser belo,
Enquanto a solidão da poesia é pão
...E para de mim longe foram...
As certezas.
Deito-me ,descrente, sem rezar...
Seca, como se não fora inverno...
Se durmo não sonho...Tenho pesadelos...
Ao travesseiro confesso que já não há luz ...
As reluzentes horas, por horas... Cinzas são...
Um gotejar em cântico faz a sinfonia,
Meu sentido coração ficou, do teu, ateu...
Se do amor digo, é para continuar fazendo versos
E doando neles os meus sentimentos;
Pois a tempestade deste instante raro, me é muito caro
Soletro o calendário...
Pinto de alguma cor vibrante o que seria felicidade.
As horas passam tarde. E da janela do quarto miro o verde
E a ave que se perdeu do ninho...
Ela é tão triste... Tão triste...
E também sente imenso o frio
Que por aqui passeia em contraditória festa natural no verde.
E as gotas e gotículas caem sobre as flores,
Que tremem como eu,
Como um batismo "nada cristão", pois ao tocá-las, as matam...
NUMA ASFIXIA DE EMOÇÃO E LÍQUIDO.
Liquidifico e bebo a dormente calma que me cerca
Em taças escuras de bronze e desatino...
Deito-me sobre a cruz deste calvário e sigo...
Sem redenção, sem a pretensão do sacrifício, sussurro...
Sussurros, coisas pagãs, inconfessáveis...
Para que o amor não escute e ainda, em mim, creia .
É fria e afiada a lâmina que me corta...
Só as águas mornas em que me banho
Me aquecem e envolvem a carne cinza,
O inverno é poesia cega e fria de busca e espera
Dorme em mim a primavera.
E UM OUTONO SEM FIM...
(Ednar Andrade).