LUCIDEZ SILENCIOSA
De tão leve o amor balançava leve em sua alma
De todo puro encanto era tanto que se fez em canto
Em todo pranto com cheiro vivo e a vida pede calma
E o corpo que dorme na lama, sem cama pede alma
O dia pede pressa e o homem não pára e pede pressa
O que falta pro homem? E a vida segue e o tempo não pára
Se há calma em sua alma, viva e grita: a vida não pára!
Que vida rara e o homem não sabe pra quem a vida foi criada
A boca cortada num canto da sala pede um beijo, sem beijo
A doença do doente pede a cura, que vida curta, sem cura
O barco no escuro navega sem rumo, sem pressa, sem rumo
Que amor sem destino, desatino, gritam separados, sem destino
Devolva meu passado, devolva meu beijo, devolva meu ventre
Recolha toda a chuva, apague toda a luz, esquente todo o frio
Resfriar todo o calor é necessário, invente outra maneira de amar
Criar seu próprio Deus, encontrar novos povos, outros planetas
Naquele dia o violeiro não tocou nada, e o violão mudo, chorou
Violas e modas sem coragem, são olhos furados, que nada enxergam
E sem rumo certo, fica por perto, de quem afina, corre e de longe sofre
E a música pede ao homem sem pressa que não pare e que saiba amar
E o homem tem medo do medo, tem medo da dor, tem medo do amor
Tem medo de subir, tem medo de descer, tem medo de tudo e tudo é nada
Tem medo da luz, tem medo do escuro, tem medo da cama, tem medo da lama
O homem já é o medo e a vida é o segredo, que dá medo, é o medo de nada fazer
O presente é passado e agora é o futuro que já é passado, presente que não há
Atrás da escuridão está a luz, é depois da montanha que a serra descansa e dorme
E todos que pensam saber tudo, não sabem nada, não há porto dentro do porto
Não há luz dentro da luz, e a vida dentro da vida é a morte, sorte, forte e só
José Veríssimo