As opções sociológicas são da mais elevada importância. Neste campo, a auto-experimentação social é um zoológico emocional: se nos acharmos crianças, podemos brincar com o mundo. Não há nada mais infantil e sublime que isso. É de certa forma uma sede de conhecimento e uma arrogância perigosa que nos toma, ao querermos ignorar um cenário natural e viciar os dados que vamos em breve lançar. Cada vez que partimos para uma experiência, há que tomar precauções científicas: conhecer o objecto de experimentação e lançar sobre ele um comportamento aleatório ou inesperado. De seguida, aguardar a reacção como um terrorista que não tem medo de ser apanhado (nem glorificado). A observação do comportamento de resposta tem que ser cuidada, já que a imparcialidade deve ser a bandeira do cientista.
O problema é que o cientista é uma criança, e como criança que é, vai viciar os dados para obter um comportamento que espera observar, tendo para ele uma interpretação pré-estabelecida que desvia todos os resultados possíveis, ao ponto de cair no erro, na parcialidade ou até no ridículo.
Mas observar é a coisa mais bela que se pode fazer. Não só porque nos faz achar que nos abre portas à compreensão, mas também porque nos ilude ao ponto de pensarmos que isso nos permite assumir a divindade da manipulação. De um ponto de vista cínico, até é um acto nobre. Um título nobiliárquico atingido a pulso, numa escalada de ciência e vício.
Imaginemos que uma pessoa que amamos, não nos correspondendo, nos injecta um desejo científico de mudar o cenário natural. É justo a bem da ciência mentir à natureza e depreender as supostas razões da falha de comunicação, como se fosse algo linear e tangível.
São terríveis as coisas que fazemos por ciência. No entanto, não evito mostrar a minha pena por quem assume a simplicidade do acto de viver por destino ou por casualidade. Não acredito em coincidências. Mesmo que isso implique que me culpe por muito que me acontece, é pela ciência que o faço.
São terríveis as coisas que fazemos por ciência.