Mascaro-me todo o dia, tal Carnaval todo o ano.
Nesta carne viva que se movimenta de ausências de sentidos, tal filme de terror cujas almas vagueiam sem destino.
Revelo a minha verdadeira face quando olho ao espelho e derramo aquilo que se me prende nas entranhas e que teima em não sair com a dúvida transfigurada da vida que vivo de forma angustiante e nada segura de si, de mim.
Mascaro-me com um sorriso já nada forçado de quem se limita a deixar correr as tintas das mil máscaras que se envolvem com a sua ao longo de um dia carregado de ilusões dominadas por anseios e descritas com o ultraje e a vergonha doseada de vontade.
Mascaro-me esperando um dia retirar de vez este peso luminoso do meu rosto e brilhar sem qualquer tipo de luz falseada de vida.
Ainda com a máscara colocada, fecho-me no meu quarto, encosto a cabeça na minha almofada e é aqui que qualquer máscara em mim presa se desvanece e o meu eu se eleva neste meu sonho que, pelo menos no final de dia, se torna real e, finalmente, me equilibro e fecho os olhos para o mundo deserto de mim.