Os sonhos deslizam no meu coração como uma bailarina em cima de um palco.
Logo imagino umas sapatilhas de ponta que, com a delicadeza de uma flor, elaboram belos passos que vão brilhando no meu mundo colorido por todos os pensamentos sonhados e ainda por sonhar.
Novas cores e luminosidades vão invadindo o meu palco.
O alvo do foco luminoso vai mudando elegantemente de uma pose para outra.
Vou alterando a minha forma e feitio, tudo me é permitido.
No meu palco posso pular, saltar, bater, chorar, teimar, sorrir, dançar, cantar, representar, amar, odiar... posso estar.
Posso estar e bailar com os sentimentos que preenchem a alma do palco que a cortina vermelha esconde com distinção e ousadia.
O palco é preenchido em todas as medidas e a preocupação ronda a beleza, a paixão, o natural e o sobrenatural, o amor.
Piruetas múltiplas ao longo da minha actuação, mas sempre em meia-ponta.
Originalidade e irreverência preenchem brilhantemente os sonhos que carrego com orgulho e com vergonha, com medo de arriscar num salto mais alto, numa pirueta mais longa, num grito mais profundo, num sonho realizável.
Neste meu palco de sonhos levito o meu coração para junto da plateia cheia de sombras de gente conhecida ou por conhecer.
Pelas pontas dos dedos dos pés altero todos os meus sentidos, vibro com todas as notas de um bailado pouco sonoro, muito silencioso, muito meu.
Neste lugar encantado posso ser qualquer uma das donzelas dos bailados mais falados, posso ser transformada em cisne no Lago dos Cisnes ou até mesmo numa das fadas de A Bela Adormecida, sou aquilo que quero e que sonho ser e vestir neste palco imaginado e abrilhantado à minha maneira e paixão.
Posso ser tudo e posso não ser nada.
Posso ser frágil como uma flor, posso ser tão delicada que consiga equilibrar-me numa outra sem sequer a quebrar.
Posso criar a ilusão que quiser sonhar e realizar.
Posso ser eu ou outra pessoa a bailar num palco iluminado por um foco que gira ligado a uma personagem de sapatilhas de ponta já gastas de tantos sonhos imaginados bailados..
As belas sapatilhas de ponta continuam a voar no meu imaginário percorrendo exuberantes palácios reais e simples pedestais de lata que cintilam na alma simples de um sonho terno.