Poemas : 

Mulher

 
Arranho os céus, sangrentos
E deponho as armas num gesto que me é dado sem graça
Sem nenhuma graça caída do alto do meu sonho

Vivi em tempos remotos
A dor do amor
A descrença
A miséria dos afectos
Proscritos na face nua do abismo
Esse ermo que m’engole toda
E eu toda lhe sou digna
E fidedigna consorte na morte devida

Afincadamente digo que sou
Mas não sei quando poderei voltar a ser
Nem sei se me vejo a denegrir um templo
Que me baptizou em menina
E me condenou, mulher solta nos caminhos

Trago no corpo a temperança
Que me guia por mundos indefinidos
Deram-me o justo valor do meu sonho
Do tempo em que me vestia de negro por fora
E me redescobria às cores
Enquanto fado cantado pelas ruas
Do lado de dentro do meu corpo

Consumida por todos quantos tinham a fome
A roer-lhes os ossos
Corrompida pelos que se vestem de manhã
E se despem à noite
Difusa por não saber ser só uma
Em todos os cantos escuros onde me deito
Emotiva por me encontrar nua no teu corpo
E desajeitada, calada, inerte, e cansada
Sou eu, aquela que viste na tua rua
 
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ÔNIX
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 30/04/2011 11:58  Atualizado: 30/04/2011 11:58
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: Mulher
a temperança, um bem enorme a guiar seja quem for.
meti-me dentro do poema e gostei do sentimento.
beijo
RS


Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 30/04/2011 22:06  Atualizado: 30/04/2011 22:07
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
Mensagens: 2028
 Re: Mulher
"...sou eu, aquela que viste na tua" - estou mulher nesta jornada. Os estados que permanecem a alma, muitas vezes, só são vistos por quem consegue ver sua imagem verdadeira, que vive na centelha da sua essência.

Lindo poema! Amei ler.

Bjo daqui.