Silêncio...de repente há tanto silêncio...como um grito mudo...sepultando o último gemido...a última letra dum poema...o ultimo nome...o derradeiro verso...a última rosa morrendo...o último sonho de amor...o derradeiro grito de vida.
E de repente...há tanto vazio nos meus passos...tanta rua escura...tanto labirinto sem saída...tantos gritos sem voz...tantas sombras no meu olhar...tantos fantasmas na noite...tantas noites nos dias...tantos sonhos morrendo...e de repente...eu morrendo...neste vôo para além do sonho...neste vazio para além dos braços...perto do nada e para além de tudo.
E eu sempre esperando à margem da vida...para além da dor...para além das mãos...nuas...cheias de nada...vestidas de Vento...esperando...apenas esperando...na escuridão das sombras....chorando silêncios.
E de repente...o amanhecer anoiteceu...envolto nas brumas do meu olhar...que se fez rio esperando um navio que nunca vai chegar...uma história que nunca vai ser escrita...um poema que nunca vai ser cantado...e de repente...as palavras fizeram-se silêncio...o silêncio fez-se saudade...o grito fez-se morte...e eu esperando...entre a noite e o vazio...entre e vento e a tempestade...esperando...no cais da solidão.
E de repente...o meu corpo fez-se grito...vestiu-se de ausência...abraço eterno de Outono...perdido no esquecimento...fez-se espera...cansaço do tempo...vestido de abandono...morto antes da morte.
E de repente...o céu escureceu...o tempo vestiu-se de luto...o silêncio dedilhou uma marcha fúnebre...os poemas calaram-se...as rimas entoaram um pranto triste...a noite veio adormecer no meu peito...as sombras...as minhas eternas sombras...dançaram a última valsa...antes do fim...em silêncio.
O tempo não volta...a distância é um grito na imensidão
Os meus restos jazem...com os meus sonhos amortalhados
Vestiram cetim...hoje moribundos...vestem-se de solidão
Alimentam-se de desenganos...vivem no limbo...estilhaçados
Calo os anseios...amortalho os desejos...amordaço o peito
Rasgo as palavras...que me rasgam o corpo...e anoiteço
Há um grito amargurado...na solidão onde me deito
Mergulhada no abismo...escrevo na alma...este silêncio
Há um grito voando...perdido na noite...perdido de mim
Foi um grito...que lancei ao Vento...na fria madrugada
Esperei no vazio do meu coração...uma palavra de ti
Esperei em silêncio...esperei...tão triste...tão magoada
Vazios os braços...frias as mãos...no olhar a escuridão
Nas folhas secas...entrego meu corpo no Vento...despida
A memória vazia...o fim do dia...o fim da noite...a solidão
A voz da madrugada...gritando em silêncio...a despedida
Sonhadora