O livro
Na tua rua as casas têm números como nas minhas páginas. E a tua rua tem, também, o nome do escritor que me escreveu. O meu pai.
As palavras, tão usadas, querem carinhos. São pintadas nas fachadas, nas lojas ou nas minhas páginas para darem cor as vidas que passam pelo mundo. O nosso mundo. As palavras querem ser ouvidas. Compreendidas. E ajudam-nos a crescer.
Eu guardo-as nos intervalos dos sentidos e bem arrumadas, entre páginas, esperam o chegar dos olhares.
São sempre minhas, e naturalmente, por entre as tuas mãos sedentas liberto-as sabendo-as sempre minhas. Elas vão ao teu olhar cristalino e retomam o seu lugar sem que percebas destas viagens.
Guardo-as com carinho. São todas minhas porque as posso partilhar.
Hoje dizem que é o meu dia, mas eu, o livro de ninguém, quero recordar os escritores e os leitores, tão só, por estar no meio deles – só isso – basta-me!
Eduardo