Era um tempo...
de andar pela cidade
de ouvir o apito
da fábrica de papel
Era um tempo...
de sentir o aroma
das flores nos jardins
bem cuidados da vila
Era um tempo
de ver dezenas de bicicletas
em um constante ir e vir
pelas ruas de paralelepípedo
Ah, como era difícil pronunciar
esta palavra, de vez em quando
me tachavam de gago, língua presa
mas não tinha gagueira, tinha vergonha
Era um tempo
de um medo incompreensível
tinha uma timidez incorrigível
agravada pela insegurança
Mas, ao chegar à banca
de jornais e revistas do Adamastor
meu semblante se iluminava
a ciência cedo me despertava.
Era um tempo
de trocar gibis, colecionar revistas
das histórias favoritas em quadrinhos
Mandrake, Fantasma, Tarzan, Mickey
Ao mesmo tempo...
folhear a revista Ciência Ilustrada,
o encantamento das naves espaciais,
de Yuri Gagarin a Neil Armstrong
E assim a vida ia passando,
os anos de escola preparando
para algo até então inimaginável
tornar-me médico e servir a humanidade,
A qualquer tempo,
a qualquer pedido,
pois o sofrimento não tem hora
nem dia para se manifestar.
AjAraujo, o poeta humanista, escrito na páscoa de 2011.