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Eu nasci com tudo pra ter um futuro brilhante. O plano estava todo traçado pra mim. Eu ia ter tudo do bom e do melhor pro resto da minha vida... Só que a minha mãe resolveu fuder com tudo: Ela não quis me dar pro medico que queria me adotar. Eu lembro que eu chorei muito quando escutei minha mãe dizendo não pro doutor (que tinha ficado com pena por ela ser tão novinha e sem marido). Eu chorava, e chorava e chorava... Fiquei tão desesperado querendo ser adotado pelo medico que nesse dia, no primeiro dia de nascido, eu, num ato de agonia, pronunciei a minha primeira palavra nessa terra: “Papai!” Pra vê se comovia a minha mãe NE?! Só que ela não deu o braço a torcer e o Doutor ficou cheio de vergonha. Depois descobri que ele queria me adotar porque estava doido pra comer a minha mãe. Ela era novinha, gostosa, ingênua... Ele era velho (podia adotar até a minha mãe se ela quisesse), maldoso e muito feio... Porem, muito rico. Mas ao contrario da minha mãe, eu estava cagando e andando pra feiúra dele dos infernos. Enfim, deu tudo errado, minha mãe me criou sozinha na humildade e me levou pra morar em frente ao rio Muriaé na cidade de Cardoso Moreira, que na época pertencia á Campos. Aprendi então a pronunciar a minha segunda palavrinha: “FUDEUUUUUUUUUU!!!”
Tive que voltar pra Cardoso Moreira com a minha mãe. Ela me pariu em Italva, pois na época Cardoso não tinha maternidade. Melhor dizendo, Cardoso não tinha porra nenhuma. Cidadezinha pequena, menor do que um cú. Cemitério também não havia naquela cidade... Eu acho que eles jogavam os defuntos no Rio Muriaé. Deve ser por isso que a porra daquele Rio vive transbordando. Nunca vi um Rio pra encher tanto igual o Rio Muriaé. Os peixes tem que mijar fora d’água. Tem ate placas pra eles: “Peixes: Por favor, mijar fora d’água pra evitar o transbordamento!” E eita cidadezinha pra ter velho, heim. Velho lá não morre nem de velhice, tem que haver uma intervenção divina, tipo... Arrancar a alma do corpo a força, porque se não, fica fazendo hora extra na terra a vida toda. Meu Tataravô morreu de algo parecido. O seu Noé (não era seu nome, mas sim seu apelido por causa dos seus 160 anos), único torcedor do time de futebol de Cardoso Moreira. Seu Noé morreu antes de presenciar o time de Cardoso disputar a serie A do campeonato Carioca... Não perdeu porra nenhuma. Na verdade, deixou de ver o puta vexame que o time deu, pois foi rebaixado no mesmo ano. Nem sei o que foram fazer lá. Não culpo o time não, pois eles nem tinham um campo de treinamento... O Rio alagou tudo. Enfim... Que Deus o tenha NE?! Ou não... Não sei.
E em Cardoso Moreira, eles comemoram o “Dia do Sim”. Cardoso na época pertencia a cidade de Campos, o que era muito pior do que ser cardosense... Ser campista! Ai a prefeitura fez um plebiscito de consulta ao povo pra aprovar a emancipação da cidade e do cidadão cardosense. Bom, isso não deu muito trabalho, pois a cidade só tem 12.000 habitantes, o que é quase o numero da torcida do Botafogo. E o povo aprovou na mesma hora. Eu fico imaginando como é que deve ter sido feita essa consulta ao povo... Uma pergunta: “Você quer morrer campista?” E duas opções: “Sim” ou “Nem fiado, nem á vista!” o que formalmente quer dizer: “Nem fudendo!” E assim, com 120.000 votos (cada cidadão votou na opção “Nem fudendo” dez vezes!) Cardoso Moreira se emancipa da cidade de Campos e eu, que não fui adotado por um médico, pelo menos deixei de ser campista.
Andre Guimaraes, 24 anos de idade, musico(guitarrista e violonista) desde os treze anos de idade, estudande de letras portugues-ingles e escritor amador.