anoiteceu. de repente. porque a luz apagou a alegria e a escuridão enfeitou os barbados. tão de repente. e num mesmo espaço efémero, dançaram os gritos, que numa dança de gestos, desenhos moribundos e arrotos profundos fizeram a alma do momento. luz e escuridão numa mesma dança. anoiteceu. de repente. a luz escondeu-se do hálito bafiento da escuridão. de repente algo morreu e os loucos da solidão continuaram o ritual de uma dança sem fim. anoitece sempre, naturalmente, sem que a morte sorria.
a morte aconteceu de repente. nunca se está preparado para dizer um adeus. adeus. adeus aos que sobrevivem.
anoiteceu de repente, tão de repente, que se fez novo dia!
nunca se está preparado para receber um novo dia. de repente. inesperado. adeus aos que se deixam adormecer no quente adorno da compulsiva mediocridade. anoiteceu e de repente dizemos adeus aos braços, soltamos as mãos e rimos dos sapatos rasgados de palmilhar um deserto de vontades. de repente, um adeus caiu nos joelhos do tempo e partiu os tacos, encerados, que faziam os lustres dos ecos. anoiteceu um adeus e a luz de repente fez dos atacadores amarras, dos sapatos barcos sem águas e gritos sem luz. mas que importa a luz se é de noite que o adeus adormece…