(Vejo à beira do Tejo
crianças que adivinham
pobreza
a banharem-se nús
perto dum esgoto)
Nús libertos
Corpos pequenos
Dos meninos vivos pintados
De poeira da areia dos sobrados
Dos casebres
Dos buracos incertos.
Trementes, encolhidos, enroscados
Acumuladores-coragem
Para romperem a friagem
Das águas de esgoto serenas.
Gaivotas a alisarem as penas
E em linha recta
Irrompendo
Como setas
Contra o espelho oleoso
Que absorve
Os corpos hirtos
Quase silencioso.
Pardais barulhentos
Que se lavam
No lago
Dos excrementos.
Chamamentos inconscientes
Aos cegos-surdos assistentes
Dos homens
Do velho vestido achado.
Saltam, gritam,chapinham
Os petizes
Tenho pena
Mas são felizes...