Se ontem eu me desfiz
E hoje, por acaso,
Eu me desfaço,
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço.
Não trago no meu peito
Um órgão fechado
E de aço
De tamanho tal e de tal jeito
Que se atrasa ou se apresse
Que, assim, parece que é feito
De algum tipo de poliéster
Ou um outro tipo de plástico.
Se ontem eu desapareci
E hoje não mais me acho
É que em meu rosto cansado
Tem uma máscara a cair,
Um rio efêmero a fluir
Ou quem sabe um riacho.
Não.
Meu coração é um rio fantástico,
Caudaloso e que, acreditem, quase sorri;
Similar a pequenos e numerosos pássaros,
No espaço, sem saber o caminho a seguir.
Meu coração é um clown de Shakespeare
Em uma armadura de tarlatana e titânio.
Meu coração é de um poeta-mecânico,
Dono do meu destino e Senhor de mim.
Por isso ontem me desfiz
E hoje me desfaço:
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço.
Gyl Ferrys