Colhe de mim
o que não tenho, o que em viagem já perdi…
Talvez o gosto, o gesto,
talvez o pranto, o silêncio fundamental do canto …
Talvez o sonho …
de amanhecer raio de luz
a pespontar por entre folhas bravias,
ser aroma, cor,
das cerejas… doces, macias, brandas,
sabor dum beijo, um só beijo de saliva
ideado com as tintas nobres de Lua.
Colhe de mim, amado,
o que não resta mais,
de um tempo de reflexos tristes,
o que se exprime aniquilado
num epitáfio de líquenes no sopé da floresta.
O cheiro da terra
abafa a morte, a morte suplantada em escombros
d'outrora espigas.
Colhe de mim, antes que finde, antes que estrelas purpúreas
mordam em malícia e peçonha a polpa da minha boca,
e não mais possa soletrar o teu nome …
o teu nome, meu amado,
o teu nome sussurrado num cântico divino,
ousado e desmedido,
entoado em coro angélico, ínvio,
no teu colo,
no teu ombro,
ao teu ouvido, letra a letra,
lentamente, em delírio e agonia na esterilidade
de uma vida que em ser pó
se alonga e se demora!
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