Dia feito para rolar na cama...
Não tenho intimidade com a preguiça, mas hoje a manhã está morna, os lençóis aconchegantes como um abraço de mãe ou de avó...
Olho da varanda uma chuva fininha que me convida a permanecer envolvida nas asas deste sonhar... E recordo os banhos de chuva que tomava na volta da escola quando menina: uma festa, uma enlameada "orgia"... Penso na meninada com uma blusa branquinha... Que a mamãe lavava com tanto zelo, e eu e todos, vínhamos parando nas biqueiras das velhas casas para tomar um triunfal banho nas “cachoeiras” que dos telhados escorriam... Nossa que felicidade! Sapatos na mão, pés nas poças d'água entrando nas correntezas que beiravam as portas e aproveitando o jorro que os carros geravam ao passar por nós, puro barro e lama... Sempre parando para por as mãos nas velhas paredes, pois não me lembro como descobrimos que elas davam choque e quanto maior o choque, maior era a emoção... Então havia uma concorrência para provar a coragem; era preciso provar quem a tinha. Seguíamos todos molhados, cabelos cheios de sujeiras que descia dos telhados... Depois ao chegar em casa encarava a bronca e fingia está arrependida: baixava a cabeça e ria... A bronca podia doer, mas o prazer daquele banho (!!!), mais do que tudo, valia... Depois um verdadeiro banho e um prato quente... Humm!!! Que coisa mais linda ver o cinza no céu e o deserto da rua, vestir uma roupa quente e caminhar nos sonhos, brincar com bilocas na areia, desenhar peixes na terra molhada, brincar de garrafão e pular corda na calçada e de amarelinha... Santa inocência... Quanto perigo, quanta felicidade! Ser criança é ser anjo, e viver como capeta (fazendo travessuras e rindo delas)... A vida passa, o tempo muda; só os sentimentos e a dor são iguais para todos. Na surpresa desta deliciosa manhã chuvosa e feliz, Júlia me remete à infância... Com olhos bem fechados, gemendo de sono, e preguiça encolhida e linda!!!!!
Ela me disse assim: Vó, hoje não quero ir pra escola, quero ficar aqui... Quero ficar na cama que está quentinha... Deixa vó, só hoje... SÓ HOJE... É TÃO BOM AQUI QUANDO CHOVE.
Eu a abracei e viajei na sua ternura.
(Ednar Andrade).