Consigo saborear aquele amargo tóxico da ponta da esferográfica nos meus lábios... Talvez uma estranha forma para conseguir sepultar as palavras, os sentimentos, os beijos, as lágrimas, os sorrisos, a minha boca, a minha pele, o meu sexo, neste meu Livro Azul.
Talvez assim fosse mais fácil, não ter que lidar com tudo no mesmo momento. Bastava abrir o livro, desfolhá-lo para cima de mim e sentir de novo o peso de tudo aquilo que tinha guardado.
Ao ouvir-te, consigo ouvi-lo. Consigo ouvir o meu violino, enterrado no meu corpo, rasgando notas para sair, partindo as cordas pelas paredes do meu útero, causando-me gemidos musicais, húmidos, orgásmicos.
Por vezes masturbo-me pelo meio da multidão, ninguém dá por nada. Escorrego a mão pelas calças e deslizo a mão pelo sexo. Penso em ti. Cerro os olhos e digo o teu nome. Nunca estás.