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Aos portugueses sem partido

 
Tags:  globalização    partido    terramortos    lua-de-mel  
 
O avião em que viajávamos para a lua de mel despenhou-se num local que uns chamam “não sei”, outros “sei lá” e outros ainda “pergunte ali a diante”. Eu fui o único sobrevivente…


O meu partido não existe. Tenho partido, mas ele não existe como tal. O meu partido não é do contra, mas permite-me concluir que não tenho partido, ou por outra, os ditos partidos existentes não servem, não prestam e, como sempre acontece nestas coisas, ninguém dentro do sistema tem influência, poder e coragem para provocar indesejáveis terramotos. O meu partido é a vida, são as pessoas, a liberdade, a justiça, a saúde, a educação, a cultura e a responsabilidade, em todas as vertentes, pessoais, sociais, ambientais… O meu partido é a verdade, até as verdades que preferencialmente ninguém quer saber. O meu partido não é o Estado, nem a União Europeia, nem a Globalização, nem o dinheiro, nem a guerra. O meu partido é contra o estado de guerra em que vivem os trabalhadores que têm de suportar todos os dispêndios e todas as aventuras dos senhores dessa guerra de traições engravatadas.
São cada vez mais os portugueses sem partido. E cada vez mais os partidos existentes são menos partidos e mais associações de malfeitores. Ser sem partido não é o mesmo que ser militante ou estar inserido nas estruturas de um partido. Ser sem partido foi-se tornando uma desvantagem crescente à medida que dois partidos deixaram de ser mais do que marcas que detêm entre si o eleitorado. Deter o eleitorado significa apenas granjear uma parte dos votos dos eleitores, normalmente baixa, muito baixa.

As tuas cartas têm-se espaçado muito. Começaste a escrever-me uma vez por semana. Depois, hebdomadariamente. De mês a mês. Quatro cartas num ano. Um postal pelo Natal e uma foto no Verão. Assim passaram cinco anos. Nesta prisão. Cada vez dizes mais em menos palavras. Na primeira carta, declaravas toda a tua paixão e sofrimento pela distância.






 
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Carlos Ricardo
 
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Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 09/04/2011 23:26  Atualizado: 09/04/2011 23:26
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: Aos portugueses sem partido
olá Carlos,

por mais que me parta encontro-me mesmo sem partido porque raios me partam se estes politicos fazem algum sentido...mas ainda assim vou sempre às urnas nem que seja só para lá por as unhas.

beijo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/04/2011 17:31  Atualizado: 10/04/2011 17:31
 Re: Aos portugueses sem partido
Das minhas leituras de hoje, aqui no Luso, destaco este texto/ensaio político, muito embora quase só me dê para ler poesia.
Mas este texto é quase poesia no sentido em que é poético e é certeiro na análise que faz do estado de espírito dos portugueses. É uma forma eloquente de denunciar a hegemonia dos partidos que está a destruir Portugal e a democracia.

Abraço