Ah como eu queria perder toda essa rocha
E desmoronar como um frágil castelo de areia
E em teus braços me aconchegar
Até virar tocha
Larva derretida presa perecendo em tua teia
Fervendo viva avermelhada a borbulhar
Queria ser a mais frágil das flores
Ser cerceada pela mais forte das redomas
Livre de todas as dores
Sem síntomes, sem sintomas
Queria que o formoso cavalheiro de ferro
Me arrebatasse desta vida lavroril sofrida
E de mim cuidasse a cicatrizar todas as feridas
Que me marcaram durante a vida
Toda a vida...
Para renascer intacta em brancura
de bailarina porcelana
Ah... eu quero uma cura
Uma cura para a minha doença de fortaleza
Quero apreender a leveza
E ser como a cálida e frágil rosa branca
Eu queria aprender a me permitir se protegida
E não mais dar guarita
Cansei de ser forte
Quero ser solidão recolhida
E então viver e morrer na tua acolhida
Por toda a minha existência
Sem pensar em razão ou consciência
Estou cheia das ciências!!
Quero a irresponsabilidade de uma vida sem propósito
Cansei de ser mátir!
Não consigo mais ver glória em toda essa dor!
Agora, neste momento,
Quero que todos esse deuses e deusas e heróis e heroínas
Me deixem partir!
Quero a monotonia de uma vida campestre
De um não viver
De um só existir
Simplesmente sobreviver...
Quero vegetar pelos anos
Me arrastar pelos ciclos da vida
Sem ao menos ter a sabedoria de perceber
Que eles se repetem
E se repetem
E se repetem
Eu quero ser comum!
Mais uma neste mundo de indigentes!
Cheio de gente
Eu queria...
Mas dentro de mim
Arde
Vive e Cresce
Uma semente
Fogosa e cintilante
Ígnea e translúcida
Brilhante!
Que anseia, sonha, deseja, até as suas últimas entranhas
Fazer diferente
E no meio de todos esses corpos
Uns aos outros sobrepostos
Eu ainda vou seguindo enxergando almas
Catando estrelas no céu nublado
Um poeta abandonado
Vivo aqui
E aqui permaneço
Por contra vontade para todo o sempre
Esquecido de olhos abertos
No mundo da ilusão.