SERÁ QUE EXISTES?
Oh Deus, porque não existes? É tão lindo este mundo, há nele tanta coisa preciosa! Há sentimentos, coisas que sentimos lá bem nas profundas da alma que nos estremecem, trazem até nós sentires inefáveis como esse a que chamamos Amor.
Este fala-nos numa linguagem muito própria, inatingível para a nossa inteligência mas que a nossa sensibilidade misteriosamente agarra e digere em delírios enternecedores que nos despertam o espírito e estremecem o corpo físico que nos acompanha.
No meio de tanto encantamento, como não existes oh Deus? Como vibra em nós esse sentimento fabuloso, inigualável, mas também outras sensibilidades que não têm preço, como a Amizade, apesar dos riscos de ser enganadora. Isto no que respeita ao nosso mundo interior e às efabulações da nossa mente. Mas oh Deus! Tu não existes apesar dos meus argumentos, mas há mais: há todo um mundo fantástico ao alcance daquilo a que chamamos sentidos e que alcançamos através dos nossos olhos, dos nossos ouvidos e de outros agentes físicos. É que com os olhos eu vejo a natureza, vejo os rios e as montanhas, as quedas de água, os desfiladeiros, os prados verdes e as árvores, esse milagre cresce e se torna frondoso e dá frutos que são delicias, tudo isto por obra e graça não sei de quê. E os meus ouvidos? Se os não tivesse ou por absurdo não funcionassem, eu não ouviria coisas maravilhosas, como o murmúrio das águas, o canto do rouxinol, a Tosca de Puccine, o alarido das crianças, a voz de uma mulher. Além disso, apesar de não existires, como pode oh Deus existir o sol, essa lua que sempre apaixonou os mortais.
Eu sei que há sofrimento também, e que tantas vezes tortura a alma. Eu conheço-o. Quase todos o conhecemos. Mas justamente porque ele existe, Tu devias existir, para aplacar os demónios que o injectam na vida dos homens.
Sinceramente, acho absurdo que não existas para que nós, pobres criaturas ignorantes víssemos lógica, entendêssemos o fantástico da vida e interpretássemos o porquê do sofrimento. Sabes uma coisa? Eu às vezes penso que Tu se calhar até existes, por aí escondido algures, atrás de um penedo no cocuruto de uma árvore, no cimo de uma montanha ou com mais lógica ainda, por detrás das estrelas. Só que escondido. Mas escondido porque? Pensando bem, talvez haja lógica nessa coisa de te ocultares aos olhos dos homens. O que seriam eles, o que seriamos nós se te víssemos, se estivesses ao nosso alcance? Acho que tenho que concluir que o homem só consegue ser homem às escuras, isto é, não Te vendo. É que no dia em que Te visse estaria chegado ao cume da montanha, teria acabado o tempo.
Sabes uma coisa? Às tantas Tu até existes, só que para nossa realização plena, fora do nosso alcance, apenas nos dando a chance de Te pressentirmos.
Antonius