No teu braço estava a Espada da Liberdade
Que a força de um povo levantava no ar.
O peso da juventude e responsabilidade
Não pesou na maneira de pensar.
O respeito por todos é tua divisa,
Mesmo quem está do outro lado,
Ou mesmo quem depressa muda de camisa;
Todos merecem o respeito por ti dado.
Se Santarém vieste para Lisboa,
Em silêncio fizeste toda a viagem.
Na tua mente a voz da razão soa,
Dando-te o apoio e a coragem.
Vieste acabar com o Estado-A-Que-Chegámos
E com esperança avançaste sobre a capital.
Nunca foste recebido com ramos,
Mas com o ultimo fôlego ditatorial.
Ocupaste o Terreiro. Cercaste o poder.
E, na calma que se seguiu, conseguiste
Dominar os ânimos e com saber
Dominaste o terreiro e viste
Como o poder estava tão podre
Que com um simples abanão tombou.
Foi assim que o teu coração nobre
Um estado torpe e cego derrubou.
E mesmo quando o Brigadeiro dos Reis,
Coberto pela sua grande cobardia,
Tenta fazer-se valer das militares leis,
Mandando derramar sangue na via,
Tu ficaste lá de pé, como Salgueiro que és,
Mostrando que coragem é uma divisa
Que não se dá aos pontapés
A quem dela acha que merece ou precisa.
É preciso sim, nascer com ela,
Sentindo-a pulsar no nosso peito,
Fazendo da vida a nossa caravela,
Donde partimos para o futuro, com respeito.
Tu tiveste-a. Graças a ti,
Graças à razão que vos movia,
Do cobarde a ordem voltou a si
E o soldado seguiu a ordem contrária.
Com os ministros a fugir, o Terreiro
Nenhum outro interesse tinha.
Foste, pois, para o golpe derradeiro:
Cercar o quartel que o chefe continha.
Atravessando as apertadas ruas da cidade,
Ao Carmo chegaste, com os teus soldados,
Aos poucos a visão da liberdade
Se tornava real aos olhos de todos por ti comandados.
O povo chega, clamando justiça,
E a liberdade é novamente aclamada.
Viste então que a calma era precisa
Para que a revolução não fosse falhada.
Negociaste a rendição do governo.
A democracia seria reposta em Portugal
Nenhum poder deve ser eterno,
Muito menos sem o apoio do povo em geral.
Negociação e ultimato feito,
A rendição surgiu com uma condição:
O chefe devia ser tratado com respeito
E não queria entregar o poder a um capitão.
Esperou-se a chegada do general
Que, quando anunciado ao povo,
Foi aclamado em delírio geral.
A revolução tinha acabado com o Estado Novo!
O país seria diferente agora
A Espada da Liberdade estava no poder.
Era chegada a tão esperada hora
De todo o país do acontecido saber.
Não estava a tua tarefa terminada.
Tinhas de escoltar com segurança
O poder caído, a chefia tombada.
Portugal ganhou a luta pela esperança.
Soldados houve que um cravo colocaram
No cano de sua arma. Um sinal
Da revolução a que se propuseram
Fazer, não sangrando Portugal.
Mas o sangue só foi poupado
Pois tu soubeste comandar.
O teu trabalho foi recompensado
Pois o antigo estado foi ao ar.
Mas a sorte não te foi favorável
E poucos anos depois morreste,
Mas viveste uma vida louvável
E em pouco tempo muito fizeste.
Uma revolução florida foi a tua;
Portugal aos portugueses devolveste
E mesmo andando numa estranha rua,
Nunca o sentido humano perdeste.
Obrigado pois, Ó Salgueiro Maia.
Pela oferta da nossa liberdade.
Foi longo aquele teu dia,
Mas longa foi a espera da verdade.
A Espada da Liberdade no teu braço
Foi erguida alto sobre Portugal.
Foi vista no longínquo espaço,
Foi vista numa alegria sem igual
06.06.1999
Este estava previsto só para o 25 de Abril, mas como Faz hoje (4 de Abril) anos que Salgueiro Maia morreu, pareceu-me apropriado que o tornasse público hoje.
A inspiração foi uma série que em 1999 deu na televisão sobre o 25 de Abril (Além do 25 de Abril propriamente dito)