Havia um silêncio em mim, que eu chamava de paz.
Havia uma mansidão em mim, falsa sintonia entre o desespero e a dor.
Havia um que, não sei de que, que, de tanto haver, tomava conta do meu não-ser.
Havia uma interrogação que eu exclamava dia-após-dia no meu ser, tão sem ser.
Mas, eu, comia, engolia, aspergia, respirava, sentia, essa coisa que não sei dizer.
Havia uma sensação de falsa paz e luz e sossego, de ser o que não sou, de querer o que não quero ter.
Havia tudo em mim, menos o que eu queria ter.
Havia uma coisa que não sei o nome e chamei, sem saber como chamar essa coisa sem nome, e no fundo da minha alma aflita, conturbada, confusa, chamei de amor.
Hahaha... Amor, palavra indigesta, profunda, confusa, até abstrata, assim como uma medusa, tantas faces, o que será, o que seria, o que é o amor? Amor eu já tentei decifrar, sentir, não sei se sei dizer: o amor é como... Um mal que busca o bem no querer; é ter o que não se pode ter; é buscar no infinito o nada que é querer... E querer o que seria? Seria a posse do outro? Querer seria estar aqui, além no infinito, a posse do outro ser? Não sei, talvez um dia alguém, possa, enfim, compreender... O que é amar, querer, sentir, ter... Hummmm... Não sei, não sei assim simplesmente dizer.
Mas, sei que havia em mim um querer que não pude "ter", talvez "por não saber" querer e... Com medo, fugi, corri, deixei que escapasse de mim e do meu ser o que queria ter. Chamaria a isso de amar? Se de amor ninguém sabe entender? Como poderia eu, assim, cega, surda, contida, abrir-me, dar-me a este tão grande movimento que chamam de amar o amor.
Mas, havia em mim uma sede infinita, toda em mim, completamente infinda de querer.
A isso chamei de sentimento, a isso chamei de viver.
E disso, fiz tantos sonhos, tantos planos, tantos sorrisos, para, depois, então, descobrir que o amor não é, nem está além de mim.
(Ednar Andrade).