O que importa,
E o que não importa...
Não quero saber do amanhã;
Vivo cada dia
Com a mesma precisão
Dos ponteiros;
Sorvo por inteiro
Os segundos, os minutos, as horas.
Ontem? Já foi, passou,
Jamais voltará a ser.
Ontem é um hoje tão vago,
Como uma folha de papel
Amarelada, manchada,
Escrita ou descrita
Com letras apagadas.
Turvas memórias, verdades nebulosas.
Minha estranha, hoje, verdade.
Hoje? Sorri, não chorei, pensei, repensei,
Corri, limpei meu quintal,varri, juntei
Nas folhas do desarrumado sentimento meu,
... Secas folhas...
O suor e a dor que jamais voltarei a ter.
Anoiteci, divaguei, senti falta, saudades,
Ausências, não chorei...
E, de certo, não chorarei jamais
Reticente memória...
Só carrego comigo agora
O tique-taque do tempo
Que caminha...
De encontro a nenhum lugar,
Por que hoje, também, já quase finda,
Dadas as horas do dia.
Até o Sol já se foi...
E fica comigo um conforto n’alma,
Uma paz que não transgrido.
A noite é sempre assim: calma...
Serena como “um amante”,
Que me beija terno e me faz repousar.
Tenho com ela uma cumplicidade;
Com ela todos os segredos que não digo;
Com ela... Todo o mistério e o meu sorriso.
E o que importa
Não é o que falta,
Mas, o que está presente no sossego,
Ausente no medo,
Longe ou perto,
Dentro ou fora
Hoje a noite é calma...
O ontem passou...
E ficou comigo apenas
O que sou.
(Ednar Andrade).