Numa bela tarde de verão quando o sol, já cansado, se preparava para recolher, um menino com o cabelo cor de avelã e os olhos muitos azuis, tão azuis como a cor do reflexo do céu naquele mar que ele tão bem conhecia, se aproximou dele e sentou se. As ondas brotavam sem força, mas o menino sentia as nos seus pés cansados de tanto caminhar. Era naquele sítio paradisíaco que ele conseguia falar. O menino e o mar tinham uma relação muito familiar. Desde pequeno que o José todos os domingos caminhava dez quilómetros a pé em direcção a ele para lhe falar.
Os outros meninos perguntavam-lhe o que é que ele tinha tanto que falar com o mar mas a resposta era sempre a mesma, nenhuma. Encolhia os seus estreitos ombros e seguia o seu caminho. O José era um menino triste e calado. A solidão era a sua fiel companheira. Enquanto os outros meninos jogavam á bola e brincavam alegremente soltando gargalhadas, José limitava se a vaguear pelo pátio da escola como se andasse perdido. De cabeça baixa, olhos fixos na calçada que pisava com os seus pés doridos das longas e muitas caminhadas em direcção aquele que parecia ser o seu único e fiel amigo que sabia o que se passava no seu coração. O Mar.
José cresceu, tornou se num esbelto e forte jovem, amigo de ajudar qualquer coração solitário, tanto quanto o dele. Com 20 anos acabados de fazer, continuava a procurar o mar como se a ele pertencesse. As longas caminhadas continuavam, os seus pés pareciam indiferentes á dor, calejados, continuavam a transportar o José. Num triste dia de Inverno onde a luz não era suficiente para aquecer os corações tristes, a alegria parecia ter surgido como um raio de luz vindo de um relâmpago, para se instalar no coração do menino do mar. Encolhido e protegido por um pequeno lençol, José acordara ao som de um familiar abrir da porta da sua moradia. O seu coração parecia querer saltar do seu peito, as lágrimas começaram a soltarem se umas atrás das outras correndo pelo seu rosto jovem mas tão cansado de sofrer. Embebido nas suas lágrimas salgadas, tão salgadas como a água daquele mar que durante 15 anos ele procurou para lhe pedir que lhe trouxera de volta o seu pai, que numa noite desaparecera no seu pobre e velhote barco de pesca, saltou velozmente da cama e agora em direcção á porta que acabara de ouvir abrir, sofregamente soluçando chamava pelo nome do seu pai e como um raio de luz acabado de nascer de um relâmpago naquela noite de Inverno encontrou todo o calor que durante anos e anos lhe faltou nos braços daquele homem que jamais perdera a esperança de o encontrar. Juntos, bem cedo, caminharam lado a lado em direcção aquele mar que durante anos os mantivera separados. Ele ouvira o menino. O mar estava calmo e sereno, as suas ondas sem força pareciam beijar os pés daquele que durante anos nunca lhe virara as costas e se limitou a ter esperança…