Diálogo entre Bocage e a Moçoila:
Bocage:
– Diz-me lá oh moçoila, porque andas para aí toda chorosa, com a cara toda ranhosa só porque um labrego daqueles não te quis p'ra dormir?!
E armando-se em gabarola, levantou os ombros e o sobrolho, continuando sua ladainha com sorriso convencido:
- Olha que aqui este cavalheiro também é fidalgo! E aposto que tem dentro das calças algo bem maior que teu amado!
Pois que esse, segundo por aí consta, até nem anda bem armado!
Moçoila, chorosa:
– Deixe-me em paz oh xenhori!! Não vê que minha almia chora de tanta mágoa sentida?
A ele queria meu corpinho entregari e o dele provari , apenas o bem lhe queria fazeri ! E logo friamente mo foi negari!! Agora fico aqui, triste e abandonada, chorosa, pensando naquele cândido rostinho, que tanto queria beijari ... amari!! Ando saudosa xim xenhori!!!
Bocage, pavoneando-se:
– Oh minha moçoila endiabrada! (risinho maroto). Com que então queria o fidalgo papar, mas ele logo se apressou a negar!
E falando entre dentes: “Pudera com essa cara
horrorosa!.. mas o corpinho hummm …esse não está nada mal! dá para a cara tapar, e o bicho matar!
Moçoila, entristecida:
– Queria apenas amari!!! Pena ele não entenderi, e outra querer em meu lugari!!
Bocage, matreiro:
– Pois formosa moçoila, tal coisa não mereceis! Precisais de um fidalgo sério e honrado, que vos possa valorizar, seu amor vos entregar e o vosso docemente aceitar! Pois olhe, resolvi me candidatar! Meu amor lhe entregarei, e o seu para mim pedirei! Dar-me-á a honra
de me amar? Sou fidalgo de nobre linhagem, e com boa
“aparelhagem”! – disse,piscando o olho.
Moçoila já envaidecida:
– Poix, senhori Fidalgo..eh eh , se tal deseja mesmo, quem sou eu para negari tão fervoroso amori que em si acaba de despontari? Meu amor vou lhe entregari ,e se para a cama me quiser levari…he he he…a tal não me irei negari!
Bocage:
– Pois vamos a isso minha moçoila danadinha!.. Vamos já para a caminha! Vou mostrar-lhe como com este “instrumento”, ficou melhor servida que com o outro jumento! eh eh eh….
Fátima Rodrigues
«Escrevo para desabafar, sonhar ou me encontrar»