Era naquele banco que ela sentava toda tarde, e lá ficava acompanhada do seu caderno, pra não escapar nenhuma idéia. Mas aquele objeto era na verdade, a maior confusão, assim como o interior dela, só a própria moça entendia. No colo, o caderno cheio de palavras desconexas e textos incompletos, sustentados por uma mente cheia de devaneios.
Anotava cada sonho, cada idéia, às vezes registrava através de desenhos, outras vezes, da forma que mais gostava: cantava.
Algumas pessoas passavam olhando estranho para a moça que vivia devaneando em meio à uma praça imunda. O que faz uma jovem tão bela e tão só, só com um caderno e caneta em mãos? Sonhava, voava. E sim, ela era uma jovem solitária, em todos os sentidos, viva no seu próprio mundinho, num mundo que ela criou. Não se importava com o que os outros pensavam ou falavam, pra dizer a verdade, nem ouvia. Só ouvia o canto dos pássaros e o som da viola que ecoava em seus ouvidos. Como eu sei disso tudo? Oh, perdão, esqueci de me apresentar. Prazer, sou a solidão, a única companhia da moça-pássaro.
Ela foi o ser mais intrigante que já conheci, e gostava da minha companhia, éramos boas amigas. Se chegasse alguém perto dela, a jovem enrubescia e eu me afastava, mas logo ela dava um jeito e alcançava-me novamente. Éramos inseparáveis.
Pois lembro-me bem da moça-pássaro como a jovem que chorava com o canto dos pássaros, e cantava com o choro da viola.
Grey