Escolhi a Lua como lar, como casa abrigo que me acolhe nas noites frias de solidão. Não é perto nem é longe, fica-me no caminho estendido entre o coração e a palma da mão sempre que a ergo bem alto para encontrar as estelas candentes que me servem de guia. Gosto da minha casa, gosto que seja cobiçada por tantos olhos anónimos que a inventam e reinventam, mas quando vista pelos meus olhos, esta Lua é só minha, gosto da sua invisibilidade quando é nova, gosto dela cheia de luz, vaidosa a exibir as cicatrizes de amores em cima de amores, gosto do quarto minguante na tua ausência e crescente quando estás presente.
Descobrir os teus mares secos nos quais nado para te acariciar, marcar-te o corpo pó com as impressões digitais do meu querer, cravar o mastro bandeira do meu corpo nas tuas entranhas e reclamar-te para mim num orgasmo vigoroso nascente de estrelas candentes.
É tão linda a minha Lua, amo quando envergonhadamente me dá a mão para seguirmos de rua em rua na procura do nada, o que importa é a companhia que nos fazemos, a partilha que nos prometemos sob o olhar dos olhos, estrelas, sempre curiosos no seu brilho singular.
Como é bom morar ali, que bom abrigar-me em ti, acreditar que o teu feitiço é amor, e que pretendes dar-nos a eternidade, mas sei que no dia que os meus olhos se fecharem darás o meu lugar a outro, que te escolha como lar, como casa de abrigo, mas hoje aos meus olhos és minha e só minha, lua mulher.
Paulo Gaminha, 27-03-2011