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... águia d’ asas coladas

 
Perpasso lentamente a penumbra húmida da palavra,
afasto as cortinas desmaiadas,
abro janelas onde as madeiras apodrecidas
emolduram os contornos difusos do teu rosto.

Sobre as dobradiças ferrugentas as sombras
rangem e mordem o vento num choro magoado.

Disponho de mim em cálice despido,
o corpo,
a alma,
o verbo e o poema,
sem pele, sem sangue ou carne,
alma desossada em torniquetes ausentes de sentido.

Caminho sem pernas, sem braços, sem gestos,
num caminho ignoto e proibido.
Bebo do ácido acetileno misturado com a aragem,
bebo o vinagre do que um dia foi fruto verde,
mosto e vinho.

Embriagada,
raso a solidão em voos de cera pálida,
águia d’ asas coladas
em queda e em vertigem.
Sou vazio
no eco de búzios desguarnecidos.

Afasto cortinas esburacadas
e deixo que a luz me incendeie de novo a fala.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 21/09/2007 11:03  Atualizado: 21/09/2007 11:03
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: ... águia d’ asas coladas
deveras arrazante este teu voo

beijo*


Enviado por Tópico
Angela
Publicado: 21/09/2007 15:25  Atualizado: 21/09/2007 15:25
Colaborador
Usuário desde: 28/09/2006
Localidade: Caldas da Rainha
Mensagens: 567
 Re: ... águia d’ asas coladas
Um poema de assombrosa tristeza...

Muito belo como sempre Mel!

Um beijinho grande.