... Também, é [muito] óbvio que se eu estilhaçasse em mil cacos o espelho onde se reflete a minha angústia, o meu tédio, o que seria de mim, e do mundo, pobre mundo... haveria cacos de angústia e tédio espalhados por toda a parte! E isto seria mais, muito mais do que já o fazem os meus escritos vagamundos! Vichhhh... Será que desta vez excedi-me na importância que me dou?!
Agora, que eu endoidei e comecei a escrever os meus nadas [na internet], eu entendo perfeitamente aquele louco que subia pelo canteiro central da grande Avenida Minas Gerais, defronte ao meu Chalé Amarelo, lançando os braços magros, brancos, para o alto em largos gestos, e dizendo, claramente, frases [desconexas? Não me lembro...] sobre a vida, sobre as pessoas, sobre o mundo...
Enquanto caminhava, ele falava, falava e rasgava suas roupas até ficar nu... e ser recolhido pelos homens de um armazém, que corriam e jogavam uma coberta sobre ele, e o levavam à força.
Mas até hoje, eu ainda não tomei tento com aquela parte do discurso do louco... aquilo de ir falando, falando, e rasgando as vestes até desnudar-se diante de gentes que nem queriam ouvi-lo... Ou será que tomei... oras... escrever não é também uma forma de desnudar-se... ou, é... e também não é?!
Escrever é gritar no vazio, a loucura da gente... Ninguém nos paga e ninguém nos quer por perto! E ainda bem que há os pares da gente: alguns poucos "deformados mentais", também iniciados em mistérios, ainda se importam com "escritos eletrônicos", ou com alguma literatura...
Ah, aonde foram, ou aonde vão parar os cacos da minha angústia estilhaçada, do meu tédio fraturado e triturado fininho, bem fininho?
[Como sabem, os loucos vêm de toda a parte, e eu sou só um louco vindo de Minas... e perdido no desterro]
[Penas do Desterro, 13 de março de 2011]