É triste não saber quem sou
É terrível não ser um mas vários
É duro amar mas não saber quem amo.
Lembro-me de quando era singular
De como tudo era simples
Sabia o que dizia, o que pensava
Tinha a minha identidade
A minha maneira de ser
E era diferente de todos.
Hoje continuo diferente
Mas já não sou eu.
O singular fez-se plural
E eu só procuro a diferença de mim próprio
Procuro a minha identidade
Procuro-me dentro de mim.
Oiço as vozes que dentro de mim falam
Conduzem o meu cansado corpo
Fazem-me agir e pensar de forma diferente
Daquela que defendo e creio ser correcta.
Sinto a corrupção a minar-me o corpo
A fazer-me seguir falsos deuses
A desejar a matéria
A perder-me no infinito de mim mesmo.
As saudades que tenho de sentir
Sentir verdadeiramente
Sentir com o coração
Ao ritmo do desejo.
Muito gostava eu de sentir
Mas os outros não me deixam
Iludem-me e fazem-me iludir
Fazem-me dizer o que sinto
Quando nada sinto
Ah! Quem me dera ser eu outra vez
Falar por mim
Pensar por mim
Sentir por mim
Não ter de competir comigo.
Ouvir chamar-me e saber que é comigo
E não com os outros.
O Singular fez-se plural
E o plural será infinito, eterno,
Não há regressão possível
Só a morte me fará singular
Só a morte é que me irá recuperar!