Deixa que me abisme
na falésia íngreme do desterro,
que seja sangue putrefacto
no mar aberto do silêncio.
Este cansaço
com que me deito e que me acordo,
este eco a vibrar vazio dentro de mim,
esta vontade mórbida de me retalhar em espinhos,
nos silvados dos teus e meus caminhos,
de morder pétalas rubras de rosas,
as que antevejo nas minhas mãos depostas
sobre o peito
e, amado, num momento de delírio póstumo,
ser de ti, elo perdido entre a tília e o jasmim…
Deixa que me assombre e tombe
no avesso do verbo em que te inscrevo,
no verso pérfido que me degola a fala
que me estripa a alma na mais pálida escuridão.
Mas deixa...
E que, no jardim florido desta dor,
renasçam cinzas, sílicas, poeiras cósmicas.
Renasçam carícias em forma de forjas
e que, em inflamação acesa,
tacteie a pele em urdidura indómita,
em chagas,
nas mais profundas queimaduras,
estas que em vida me consomem e me imolam
na cegueira que me coabita
… para que me esqueça, amado,
quem sou, quem fui,
por fim.
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