A sorte que talvez não mais viesse
O vento leva o barco noutro rumo
E quando pouco a pouco em consumo
Encontro a dura, amara leda messe
E vejo que quem sabe se pudesse
Ousar noutro caminho. Mas sem prumo
Decerto a cada engodo me acostumo
E perco toda paz, tudo me esquece
E vejo tão somente o que deveras
A vida renegasse enquanto esperas
Ao menos um alento que não veio,
Mergulho no vazio da esperança
E tento acreditar quando se lança,
Meu passo sem saber qualquer receio.
2
Meu passo sem sentir o desafeto
De quem já não viera e se completo
Meu mundo no vazio sem sentido,
O canto noutro encanto resumido,
O farto desejar onde repleto
Minha alma neste tom quase deserto
Vivendo sem saber do quanto olvido
E bebo cada angústia repartido
Nos ermos de meu passo sem proveito
E quando após o tanto ora me deito
Vestindo esta ilusão de quem tentasse
Mostrar a realidade em nova face
E nada me orienta após a queda
E a própria porta agora o tempo veda.
3
Vedando cada estrada aonde um dia
Pudesse ter nas mãos o quanto quero,
O mundo se mostrasse tão sincero
Ou mesmo noutro tom, em covardia,
O tanto que pudera e não teria
E o verso se desenha aonde espero
A luta desdenhada aonde o fero
Caminho mata a leda fantasia.
Restauro com meus versos o meu mundo
E quando na verdade ora me inundo
Do tempo sem proveito e sem razão
O vento que tocando o meu telhado
Expressa do passado o seu recado
E nega os dias mansos que virão.
4
Os dias que se vendo após a porta
Jamais sei me trariam qualquer luz.
Preparo cada queda e se conduz
A luta que esperança em vão aborta,
O tempo noutro cais já não me importa
O ledo desenhar exprime a cruz
E vejo sem saber por onde pus
Meu passo nesta estrada atroz e morta.
Já não me caberia a decisão
E vejo sem temor a dimensão
Ferina da esperança em tom medonho,
Mas quando uma saída ora proponho
Os dias que eu bem sei não mudarão
Repetem cada anseio onde me enfronho.