Poemas : 

Futuro Oculto

 
Escrevo-te com a memória resguardada no corpo, escrevo-te com o transpirar do desejo, ardente. Escrevo-te porque sinto necessidade de te ter. Porque estar contigo e não te poder tocar me perfura a pele, ansiosa por te ter. Escrevo-te para que saibas que o meu amor por ti ainda existe. Que a todos os minutos que estás a meu lado, luto contra mim e contra o desejo do meu corpo. Que luto com o fulgor das palavras que te escrevo aqui e com a ansiedade que te vejo ali. Que luto, todos os dias, contra a vontade do meu corpo e o amor do meu coração. Tudo por ti, tudo porque não consigo calar este desejo. E escrevo-te porque encontro aqui uma maneira doce e frágil de te ter, porque as palavras não ripostam o meu amor por ti, porque o silêncio do tempo não atira ao vento o meu amor por ti. Gostar de ti significa isto. Calar-me no vazio que o teu coração me dá. Gostar de ti significa isto. Estar no mesmo sitio que tu e não te dirigir palavra. Nem uma. Gostar de ti significa, por vezes, falar de mais. Atirar-te umas palavras que nunca sei se chegas a apanhar. Gostar de ti é ouvir a música que aqui transporto. Gostar de ti é ficar assim. Agarrada a palavras que o coração solta e que o desejo cala. Agarrada a memórias que a mente solta e o corpo renega. Agarrada á tua memória fico. E não me vale de nada estar assim por ti. Mas estou. E não consigo fazer nada. E também já quis saber mais isso. Talvez um dia, por caminhos cruzados, te lembres que para além de mim estava alguém que te amou demais, por demais, e até demais. Talvez um dia, por caminhos cruzados ou não, venhas a sofrer o que um coração apaixonado pode sofrer. Talvez um dia, por minutos perdidos em jogos ganhos te lembres de mim – ou talvez não. Talvez até nem tenha deixado ficar uma marca na tua camisola, talvez até nunca te venhas a lembrar da minha escrita, do meu amor, do meu calor, do meu desejo, do meu corpo frágil, dos meus olhos esverdeados, da minha pele quebrada. Talvez um dia já nem te lembres do meu nome nem do amor que abarquei á tua custa. Talvez um dia, seja o meu coração a calar-te e as portas do meu corpo a emudecer-te, silenciar-te e ocultar-te. A ocultar-te. Ocultar-te para sempre.

 
Autor
Cassie
Autor
 
Texto
Data
Leituras
991
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
9 pontos
1
0
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
VCruz
Publicado: 18/02/2012 10:02  Atualizado: 18/02/2012 10:02
Colaborador
Usuário desde: 08/06/2011
Localidade:
Mensagens: 678
 Re: Futuro Oculto
Sem folego, so consigo dizer: magnifico! Levando comigo para ler com calma...
Abraços
Valéria Cruz