Ela era criança.
Fugia dos imaginários males que a perseguíam nos sonhos, eram monstros com bocarras enormes que queriam trincar o seu miúdo corpo repleto de energia e vivacidade.
Corria, o mundo olhava-a, as árvores que admirava durante o dia, à noite olhavam-na com olhos medonhos, a relva que beijava à luz, atacava-lhe os pés, prendia-os.
Acordava em sobressalto e um choro enorme enchia a casa. A mãe, preocupada, corria à sua procura, abraçava-a e dizia-lhe mais uma vez "Foi só um sonho, eu estou aqui."
Apertava a cintura da mãe e encontrava com a face o seu peito, ali, ouvia o pequeno grande ritmo que a deixava segura.
Mas o medo era infinito, ela, pequena, crescera sempre com estranhos seres imaginários a perseguírem-na mentalmente, o amor assustava-a, temia-o, o tempo corria-lhe nas veias atirando flechas directamente para o seu pensamento e magoava, o tempo magoava-a, o tempo, o amor, era tudo monstro.
O seu corpo tinha-se transformado em algo belo, era uma lírio, uma pequena flor assustada.
les fleurs mortes.