-Bom dia senhor Ódio, como está hoje?
-Bom dia, senhor Amor. Hoje ando muito mal, muito mal mesmo!
-E porquê? Morreu-lhe alguém da sua família, se é que tem família.
Ódio, olhou para Amor com um ar de desprezo e carrancudo, como é hábito, respondeu:
-Com certeza que tenho família, tenho os meus irmãos espalhados no mundo inteiro e não morreu ninguém da minha família.
O Amor fixou o Ódio nos olhos e perguntou:
-Então porquê, está assim tão carrancudo?
-Porque hoje ainda não encontrei ninguém para odiar, tudo simplesmente e já é quase meio-dia, isto não é normal, algo me diz que você, Amor, está por detrás desta crise com a sua mania de amar toda a gente.
Amor começou a rir às gargalhadas da reflexão do Ódio.
-Mas com certeza que sempre farei o possível para o fazer sofrer, senhor Ódio. Estou mesmo convencido que ainda conseguirei um dia, o converter.
Ódio não gostou mesmo nada do que Amor acabara de dizer.
-Você já me viu, eu, Ódio, amar alguém? Era o que faltava, era a mesma coisa como se morresse.
-Mas eu não tenho intenção de o matar, Ódio, sei, isso sim, que continuo a me bater para que você, Ódio, desapareça da face desta terra onde todos temos anseio de viver com amor, fraternidade e paz.
Foi a vez de Ódio desatar a rir e a bom rir.
-Mas Amor, isso só pode acontecer em sonho, na vida real isso nunca pode acontecer. Só com Amor não haverá Ódio, mas só com Ódio, não haverá Amor, como vê, precisamos um do outro para equilibrar o sistema de vida.
Por vezes eu sonho que sou Amor e acordo em sobressalto, aos gritos. Não... não... quero ser Ódio, quero ser ódio, abro os olhos e como fico contente. Nunca sonhou, Amor, de ser ódio?
-Não, nunca sonhei que sou Ódio. Sonho também, claro, mas sonho que sou amor, que o mundo é um mundo de amor, vejo o amor cair das nuvens como gotas de água pura que nos refresca e acordo, acordo feliz, mesmo sabendo que não foi que um sonho..
-Bom, Amor, consigo não aprendo nada e antes que te comece a odiar... adeus, até um dia.
-Até jamais, disse o amor
E lá se foram virando as costas um ao outro.
A. da fonseca