O céu já era azul, antes daquela lágrima a ele ascender em asa. Era. Mas era de um azul diferente, fugidio, impreciso, pertença do vento. Como se nada neste mundo fosse puro e perfeito, estático ou estável...
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Quando aquele menino nasceu, uma lágrima perfeitamente incolor caíu no mar, invejando-lhe o azul. O mar inquieto embalou-lhe a inocência e teve a grandeza de lhe confessar que o azul que ela buscava não lhe pertencia, era do céu, a ele só lhe cabia o reflexo. A lágrima não acreditou, achou que era só modéstia do mar, não se julgar azul... O certo é que se sentiu em berço de folhos e carinhos e jurou que para sempre iria guardar em si a cor anil e o sabor salgado das águas que a embalaram.
O mar amou-a tanto que quis dar-lhe o real tom do céu. Então, numa tarde morna de quase Primavera, elevou-a ternamente, como pai extremoso, ao amplo altar cor de safiras, como a oferenda preciosa. A lágrima, já azul de coração, límpida pelo amor e pela fé, absorveu todas as tonalidades azuis da amplidão e fundiu-se nela, confundiu-se nela, intensificando milagrosamente o brilho precioso do céu que nos reúne…
Navegaram mais lágrimas invejando o azul, lançaram-se ao mar, desejando subir, nos abraços voláteis das ondas e alcançar a perfeição… mas mais nenhuma o conseguiu.
Só uns olhos, uns olhos de menino, o conseguiram capturar para sempre: aquele menino que nasceu no mesmo dia em que a lágrima primeira se lançou, confiante, à incerteza do azul. Confiantes como ela, os seus olhos inocentes subiram ao céu e dele retiveram a pureza e a profundidade celeste… Como dois godés preciosos onde se mistura a tinta única que a terra sonha, o mar dilui e o céu aperfeiçoa.
Teresa Teixeira
(com muita ternura, para quem a sabe...)