Jardins e margaridas, quintais, beija-flores, borboletas e poemas. Corria com total euforia, inconsciente fantasia que a fazia aprisionar borboletas; uma escura intenção (uma não clara evidência), elas chamavam-lhe a atenção.
Coloridas, belas, livres. No seu coração não havia o perverso instinto da prisão.
A vida entrava e saía pelas narinas numa perfeita harmonia de “ar e liberdade” e, por tantas vezes... Sentia uma angústia, um desconforto incompreensível por elas: asas, liberdade, vida, vôo, porque prisão? Porque aprisionar o belo? Para que tornar inerte, sem vida, um ser tão belo?
Mas, entre flores e quintais, estavam lá as suas presas, não que quisesse matá-las, mas uma necessidade de tê-las, de admirá-las, também traduzi-las, entendê-las, quem sabe... Aprender, com elas, o segredo de ser livre? E, por isso, as surpreendia. Olhava-as com uma certa dó, até pedia desculpas.
Não sei se por amá-las tanto ou por não saber como frear estranho sentimento de posse.
Borboletas: sinônimo de liberdade, sinônimo de belo.
Num gesto rápido, trêmulo, frenético, segurava a presa. A borboleta debatia-se e ela, angustiada, pedia-lhe calma. Depois, no inconsciente movimento, dirigia-se à estante, abria um livro e ali depositava aquele poema, porque era um poema. Nunca entendera o movimento de tal comportamento. Por que não deixar livre coisinha tão bela...?
Depois, passadas horas, voltava ao livro, retirava de lá aquela pérola e a admirava... Era como um poema, conversava com ela, num gesto “quase esquizofrênico”, dizia-lhe coisas nunca dizíveis, nunca reveláveis a alguém. Entre ela e a borboleta, ela sabia havia um sentimento comum: a vontade de ser livre. Pobres borboletas que, sacrificadas, viravam poemas...
Ali moravam, dependendo da sorte, com Drummond, dependendo da sorte, com Vinícius... Dependendo da sorte... Um mundo tão encantado, onde se misturavam a dor e a poesia.
Felizes borboletas...
Sacrificados poemas...
(Ednar Andrade).