um dia destes deixo de ser português
vou comprar meu bilhete de exílio
higienicamente limpo
enjoado da contemporaneidade
morrer de pálpebras abertas
comercializar no subterrâneo
aquém da Europa, vender a pátria
e nem o peso pesado, apesar de estar farto
dizer: Abril!
vou perder.me na seiva verde dos cravos vermelhos
aqui ,de mãos nos bolso a coçar os tomates
(são os meus, meus patriotas!)
agrestes e solitários
sujos d´ óleos operário
vendedores de porta a porta
(não ontem, mas precisamente hoje, agora)
cumprem …incapaz de dizer a ternura
com três filhos famintos
não vou falar ao meu país
em discursos obsoletos
pertenço sem dúvida a esse medular
transformado de facto em história e castanholas, boinas "che"
( também não ficava mal)´
e "bob marley´s"
envoltos em palidez burguesa
erva de sede a crucificar,
o ouro do meu país
onde reinar são cidades estado
(fora de sítio)
vestidas com o último modelo” prada”
(ou não se vestisse o diabo essa moda)
de acabamentos insanes:
não sei quem são
(pessoas anónimas?!! talvez,)
aqui, ano 2011, a não sei quantos graus de latitude
Portugal
um pa(ís) que se matou
(todos sabemos porquê)
uma mãe que se prostitui
(todos sabemos porquê)
um jovem em triple de heroína
(todos sabemos porquê)
um trabalhador desempregado que rasga a roupa
(todos sabemos porquê)
um poeta que rói os dedos enquanto possível,
mas falta.lhe a coragem de morder as unhas
(todos sabemos porquê)
TODOS SABEMOS PORQUÊ
e dentro…
(todos sabemos por dentro o porquê)
o quanto é doce dizer pátria
sonhar o território livre e insubmisso
gritar…liberdade
(em versos sem preservativos)
apesar de tudo impotentes
exilados …na hora oficial.
TODOS SABEMOS PORQUÊ.
" An ye harm none, do what ye will "