Sonetos : 

UMA ESPERA EM VÃO

 
Tags:  sonetos    Marcos Loures  
 
O quanto não se espera e nada vale
A senda onde se acenda esta esperança
E jogo com palavras lavra avança
Enquanto outro caminho trama o vale

E vendo esta ilusão quando se exale
E tanto quanto vejo esta lembrança
Marcando com ternura e confiança
O preço quando nada além se instale

Somente a imprevidente garantia
Do quanto pousa em sorte e não viria
O que demais se quis sem previsão,

Doando da alegria um mero insumo
O tanto que deveras eu resumo
Ditando outros momentos desde então.

2

Ao tentar pelo menos o sossego
Aonde com firmeza a queda vem
E sei deste vazio onde ninguém
Traduziria além de mero apego,

E sei do meu caminho e sem fastio
Invado as cercanias, margens tais
E nelas outras mais em desiguais
Cenários onde o nada agora eu crio,

E noutro sol exposto em tom maior
O vértice do sonho dita o fim
E bebo do que possa e dentro em mim
Apenas outro rumo sei de cor.

Das cores mais diversas, versos sonhos
Somente tais retratos vãos medonhos.

Ainda quando vens e estou dormindo,
A noite prometera e não cumprira
Açoda-me decerto esta mentira
E mesmo o mais horrendo, o vejo lindo,

E possa no final me definindo
Por erros costumeiros, leda mira
E a Terra enquanto ronda roda e gira
E nada mais banal que o tempo findo,

Reparo os meus enganos e se faço
Da vida qualquer coisa além do traço
Apenas incerteza dita o quanto

Meu tempo sem sentido e sem razão
A velha camarilha em dimensão
Diversa da que tanto desencanto.


4


Se o nada importaria tanto faz
O medo não me guia ou mesmo trama
A sorte desenhada em vaga trama
Apresentando ao menos Satanás

E o velho caminheiro onde se traz
A vaga concessão imensa chama
E nada se produz sequer reclama
No prazo derrotado mesmo audaz,

Ainda sem sentido o que se crê
E nada se anuncia e sei do que
Se expressará em nós forma constante,

E beberia a sorte, uma indigente
E mesmo que deveras se apresente
O tanto sem proveito me adiante.

5


Ainda que se fosse o que não veio
E mesmo se viesse não traria
Somente esta semente, hipocrisia
No quanto o meu cenário em devaneio,

Presumo o todo e bebo sem rodeio
Tecendo com total vã sincronia
Martirizando em nós tanta agonia
E misturando o meu com outro, alheio,

E bêbado de sono me enfastio
E sei da imprevisão do desafio
E mesmo deste rio em tempestade,

Ausento sem sentido e sem um norte,
Meu passo sem mais nada que o suporte
Aos poucos noutro fato se degrade.


6


Ainda que estivesse onde estarei
Num salto atocaiado em curva e medo,
Aonde na verdade me concedo
Espero da esperança regra e lei,

E quando no final me desandei
E tanto quanto possa em tal segredo
O mundo se apresente desde cedo
E nada do que eu busco inda verei,

Somente o quanto custa ser feliz
E tendo na verdade o que não quis
Apresentando ao fim mera ilusão,

Morrendo a cada verso sem valia,
Aos poucos perco em mim a poesia
E tomo como par a solidão.

7

Desnudo minha pele e neste fato
Apenas o que exponho dita o limo
E tanto quanto pude e não estimo
O fim de cada prazo ora constato,

E neste desenhar onde retrato
O mundo sem pavio enquanto primo
Meu passo pelo vago e não redimo
O velho caminhar em limpo prato.

Negar o meu anseio e procurar
Apenas um lugar onde ancorar
O barco há tanto roto e sem convés,

Já não me caberia ter nas mãos,
Além destes momentos todos vãos
E neles outros tantos, de viés...


8

Na derme que ora exponho vês o fim
De quem se apresentara qual poeta
A vida de tal forma me deleta
E bebe o que inda resta vivo em mim,

E sei do desvalido de um jardim
E nele cada noite se completa
Na fúria mais audaz em corte e seta
Na meta desdenhada e sempre assim.

Reparo cada passo e nada veio
Apenas o que tanto sigo alheio
No veio mais audaz e pestilento,

Mas quando deste esgoto vejo o cais
Enfrento o quanto pude em vendavais
E mesmo outro caminho em luz invento.


9


A fonte generosa da esperança
Alçada pelo sonho de quem tente
Vencer este caminho imprevidente
Aonde outro momento em vão se lança

A vida chefiando tal mudança
Embora seja tudo o que apresente
No fim de novo instante o que acalente
Expressará no quanto ora balança

E resta o pendular anseio feito
Em sonho ou mesmo em queda e contrafeito
Eu já não mais traria outro cenário,

Andando contra toda a imensidão
Dos erros que acumulo e sei que vão
Tornar o dia a dia temerário.

10


Sem auto-conhecer cada presença
Em volta deste lume qual falena
Que tenta acreditar na sorte plena
E morre quando em êxtase se pensa,

Ausento do que possa e não convença
A vida quando muito nos condena
E sei desta verdade que envenena
Quem tenta acreditar no que compensa.

Realço com meu verso o que viria
E sei da negação da fantasia
Amortalhando enfim esta promessa

Do tanto já perdido pela vida
E quando a solução tenta e divida
A história noutra face recomeça.



11


Exílios da esperança em solidão
De tanto que buscasse ter ao menos
Momentos onde tanto mais serenos
Os dias mudariam de estação

E sei do quanto possa em meu verão
Viver após momentos tão amenos
Anseios mais sublimes claros, plenos
E neles outros tantos se farão

E vejo esta fração tentando o todo,
Depois do que pudera em cada engodo
Vestindo a minha sorte impunemente

Resumo minha vida em cada verso
E sei do quanto possa o mais perverso
Cenário aonde o tanto agora mente.

12

Suprimo cada passo quando ousando
Vencer qualquer caminho e mesmo assim
Ainda me aproximo de meu fim,
Sabendo de outro fato ainda brando,

E tanto quanto possa desde quando
A morte anunciada vem a mim
E bebe cada flor deste jardim
Já tanto noutro rumo transformando,

Inerte sensação de quem se quer
Ousando no vazio onde qualquer
Mordaça não traria novo plano,

E quando sem saber o que me reste
Ainda cevo o tanto que deteste
O mundo onde em verdade ora me engano.

13


A vida se apresenta em tal ventura
E nisto o quanto tenho nada vale
E mesmo quando o sonho ora se cale
A noite me produz farta amargura,

Jogado sobre a senda mais escura
E nisto o meu caminho sempre exale
O tanto quanto possa e nisto inale
A louca sensação de vã ternura,

Reparo cada engano e sigo além
Do manso desejar onde convém
Quem sabe muito bem o que se queira,

E sinto o que se pensa após o nada
E deixo na verdade abandonada
A luta sem saber em leda beira...

14


Guardando sem sentido qualquer mundo
E nada se avizinha do que sei
E tanto poderia em nova lei
Galgando novo passo onde me inundo.

Semente do que possa e me aprofundo
Enquanto no vazio eu mergulhei
Embora cada passo; poderei
Ousar em coração mais vagabundo,

Restando do que fomos muito pouco
E sei quanto em verdade sigo louco
Entre momentos tais onde se visse

E sinto o que se queira nova forma
E tanto quanto possa se transforma
Deixando no passado esta mesmice.

15


Seguindo na alameda da esperança
Aonde o que se quis já não viria
Traçar noutro momento novo dia
Enquanto o tempo além invade e avança

A sorte se desenha em temperança
E o marco no final não mais veria
Sequer o quanto possa em alegria
E nisto qualquer passo agora cansa,

Revejo tão somente o que se fez
E tento outro caminho em sensatez
Diversa da que tente desejar,

Andando contra a vaga da saudade
Apenas o vazio que me invade
Expressa com firmeza o raro mar.



16

Deixando os meus caminhos para trás
Montanhas entre sonhos mais felizes
E quanto deste mundo contradizes
Traçando outros cenários desiguais

A voz onde pudesse ser jamais
O tanto que quisera sem deslizes
E trago na saudade as cicatrizes
De estrelas bem guardadas nos bornais,

E sigo sem saber o que seria
A vida em avidez e fantasia
Num átimo um mergulho neste rio

Aonde nas cascatas mais sublimes
E nada na verdade tu redimes,
Marcando cada passo onde o desfio.


17


Das ânsias de um menino nada resta
Somente a mesma cruz onde marcada
A história mais cruel da velha estrada
Apenas do passado mera fresta,

E o tanto quanto tive ora se atesta
Na mesma lenda ou tez velha e nublada
Da luta quando mesmo enfastiada
Apresentasse o fim da antiga festa,

Não trago nos meus olhos o futuro,
Somente me retive em velho muro
E nada do que eu quis se faz presente,

E vejo neste todo sem sentido
O prazo pelo tempo corrompido
E o canto noutro rumo se alimente?


18


Andasse por estrelas onde um dia
Em siderais tormentos quis a sorte
Que tanto como audaz já nos conforte
E marque sem sentido a poesia,

O verso quando muito o tempo adia
E gera outro momento bem mais forte,
Navego sem saber se tendo um norte
Eu possa desvendar velha sangria,

Jorrando dentro da alma o que não vinha
E sei que na verdade fora minha
A lua sem fronteira em noite imensa,

Mas quando no passado a vida habita
A sorte se mostrara mais bonita,
Embora novo instante não convença.


19


Negar o que me reste em abandono
E crer noutro cenário que não tive,
Ainda quando a sorte ausente vive
Eu sei que do vazio sou o dono,

É próprio de quem tenta noutro sono
Embarques onde o mundo em paz se crive
E nada do que tanto se cultive
Trará sequer o medo onde me abono,

Vestindo em constelar imagem sigo
E tento adivinhar qualquer abrigo
Aonde a mera queda desfilara

Gestando sem sentido e sem proveito
Apenas na lembrança ora me deito,
E vejo a cada engodo outra seara.

20


Marcar com discordância o que viria
É fato costumeiro de quem sonha
A morte necessária é tão medonha,
Mas dela se alimenta o dia a dia,

Respaldo do que fora fantasia
Agora noutro passo se proponha
Vencido caminheiro onde se ponha
Negando o que pudesse alegoria,

Revoltas dentro da alma, simplesmente
E o tanto que se quer mesmo que ausente
Pressente qualquer tom diverso quando

A marca se aprofunda em cada cã
E vejo sem saber deste amanhã
Há tanto noutro engano desabando.


21


Vestígios do que fui e não presumo
Ainda que se veja noutro encanto
O mundo se anuncia em tal quebranto
E bebo do meu canto este resumo,

Vencendo o quanto tenha e se o consumo
Esbarro no vazio e me garanto
Deixando no caminho dor e pranto,
No tanto quanto possa podre sumo.

Esvai em poesia o verso quando
O rústico cenário se moldando
Só fale desta estrada abandonada,

Depois de tanto passo sem proveito
Olhando para trás quando me deito,
A sorte se resume e dita o nada.

Não tento acreditar noutro momento
E nada do que possa me alimente,
Ainda quando a vida violente
O risco a se perder demais aumento,

E vejo em meu olhar o passo atento
E sei do meu engano mais frequente
Embora no vazio se fomente
A vida onde decerto um dia eu tento,

Reparo cada passo sem sentido
E quanto mais procuro e dilapido
Ousando retornar por onde vim,

A morte se apresenta em solução
Futuro se perdendo em dimensão
Diversa da que trago e sei enfim.

Marcar em discordância o que se traz
E ter no olhar apenas o passado,
O mundo se anuncia desarmado
E o verso se produz e nada faz,

Ainda se acredita em mera paz
No passo onde meu mundo desabado
Expresse esse caminho desolado
Vencido deixa tudo para trás.

Marcar em consonância o que não veio
Tentar acreditar no mundo alheio
Ao prazo onde o tanto determina,

O canto sem saber qualquer alento
Expressa o delirar em claro vento
Matando a sorte audaz e cristalina.


24


Restando muito pouco do que um dia
Pudera transformar em meu castelo,
O verso que pudera ser mais belo
Há tanto sem sentido morreria,

E brindo com diversa fantasia
Grassando outro momento onde revelo
Apenas o que possa em tal restelo
Traçar em meu arado a poesia,

E sei que quando em penas esta enxada
Tramasse no final o mesmo nada
Aonde o meu anseio se traduz,

Ainda que se creia no futuro
Somente sem semente eu asseguro
A vida se perdendo em frágil luz.


25

Meu canto se presume e nada vejo
Somente o quanto quis e nada houvera
A mansa sensação tanto sincera
Expressa a solidão em vão desejo,

Resumos da verdade onde prevejo
A queda mais atroz em velha esfera
E sei da imensidão desta quimera
E nela este momento malfazejo,

Angustiadamente o mundo invade
O tanto que alimento em tal saudade
Vestindo a roupa atroz, leda e puída

Deixando sem sentido o que virá
E tanto quanto vira aqui ou lá
Perdera há tanto tempo a minha vida.


26

Tecer com velhas linhas o futuro
Decerto já perdera a dimensão
Dos erros que talvez inda verão
Os passos neste ocaso, mundo escuro,

E quando no vazio eu me asseguro
A queda traz em nova direção
Enganos onde tanto inda virão
Os passos sem saber do imenso muro,

E se depuro a sorte que não veio,
Apenas caminhando em tal anseio
Eu vergo a mesma sorte sem proveito

E quantas vezes tento algo diverso,
Mas sei do quanto possa e me disperso
Enquanto solitário ora me deito.


27

Jamais acreditei em novo prumo
Depois da velha queda aonde um dia
Vencido pelo quanto poderia
Ousar e não pousar onde acostumo,

Reparo e na verdade me resumo
No engano aonde a sorte moldaria
A luta sem sentido onde eu teria
Apenas o vazio e nele o prumo.

Resplandecente sol que não mais veio,
Olhando para os lados cada anseio
Promete novo dia em desalento,

Repatriado encanto aonde o mundo
Seguisse seu caminho mais profundo
E nisto da esperança me alimento.


28

Pedaços do que fomos pela vida
Jogados nesta estrada sem sentido,
O quanto a cada curva dilapido
E a noite sem proveito, apodrecida,

E quanto mais queria enternecida
A sorte e nela o tanto que duvido
E bebo cada gole onde divido
Meu mundo na esperança desprovida,

Preciso na saudade cada instante
Devora o que pudera e doravante
Apenas um fantasma segue só,

Do quanto poderia e nada vinha
Somente esta verdade mais daninha
Expressa o que ora sou, apenas pó.

29

Chamando por teu nome e nada vem,
Somente o mesmo frio do passado
O verso pelo tempo embolorado
E sei do teu olhar, sempre em desdém,

O risco de sonhar eu sei que tem
Apenas outro engano desfraldado,
Resumo do que trago e sei do enfado
Da vida sem saber de mais ninguém,

Pousando nos meus ermos, solidão,
Saudade expressa os dias que virão
Negando qualquer luz ao caminheiro,

E tanto quanto pude adivinhar
Somente novo engano a me tomar
No canto com certeza, o derradeiro.

30


Algum mistério eu sei que traz a vida
E nisto outro momento em mera queda
Aonde o meu cenário se envereda
A sorte noutra sina a ser cumprida,

Já não me caberia o que duvida
E nem sequer o passo onde se seda
A solidão cruel mesma moeda
E nela se pagasse a despedida,

Servindo de alimária a quem se fez
No olhar sempre sozinho, insensatez
Deixando como trilha a solidão,

Esboço na verdade o que me reste
E nisto este cenário quando agreste
Traduz a dor em turva sensação.

31


Ainda quando vejo esta submissa
Vontade de tentar novo momento
A sorte perpetua o movimento
E vejo o quanto possa em tal premissa,

E sei desta verdade mesmo omissa,
Restando dentro da alma o que ora tento
Presumo a sensação do imenso vento
Enquanto a paz deveras se cobiça

Presumo qualquer dia e vejo bem
Do tanto quanto possa e nada vem
Somente o velho espectro de outros dias.

E neles enveredo cada passo
Ousando na verdade quando faço
O tanto que não tenho e nem terias.


32


Ainda quando a sorte percebendo
O tempo noutro tempo emaranhado
E o verso sem sentido do passado
Aonde não passasse de um remendo

Agora noutro traço se prevendo
Marcando o quanto tenho do meu lado,
O velho coração enamorado
E nisto o todo dita o fim horrendo,

Representando a paz que não se quis
O verso mais audaz deste infeliz
Desvenda o que se quer daqui pra frente,

Mas quando se cultiva esta lembrança
Um passo no vazio ora se lança
E nada mais deveras se apresente.


33

Negar o quanto tenho e mesmo tive
Aonde se presume este vazio,
Ainda que se veja o mais sombrio
Momento enquanto além nada revive,

O verso sem sentido já cative
O velho caminheiro onde este rio
Expresse o quanto quis e desafio
Tateio sobre o quanto a vida prive,

Não posso mais sentir qualquer espreita
E nada do que tento ora se aceita
Somente esta ilusão, tola e sutil,

Do quanto se tentasse em luz imensa
Apenas o que resta nos convença
Do mundo quando o todo se partiu.


34


Um filho e novamente a vida trama
Momentos mais diversos, treva e luz
E quando na verdade reproduz
O mundo se anuncia em sombra e chama,

E o prazo que se quer não mais reclama
E nada no final jamais seduz
O velho coração exposto à cruz
E tanto se apresenta enquanto se ama,

Não tento caminhar contra a maré
E sei do quanto rompe esta galé
Ousadamente atada no infinito,

E amar sem ter segredos ou mentiras
Enquanto do passado tu retiras
O tanto que se quis e necessito.

35


O medo não se mostra quando a gente
Expressa o quanto quer em liberdade,
Porém quando a certeza ora se evade
Pousando noutro encanto mais urgente

O mundo quando muito quero e tente
Vencendo o quanto pude em claridade,
Deixando para trás a realidade
No verso mais audaz e impertinente.

O prazo determina o fim do sonho
E sei do que se quer mesmo medonho
Deixando na esperança este pavio,

E sei deste momento vivo em mim
Ainda como fosse um estopim
Que tanto quanto acendo eu desafio.


36


Nos ermos de quem sabe o que viria
Espreito cada engano e sei do fato
Aonde todo o tempo ora resgato
Tentando acreditar na fantasia,

Depois do quanto a vida me traria
Vestindo sem razão quando retrato
A lucidez se faz onde eu constato
O mundo com temor ou galhardia,

Vencido caminheiro sem futuro
O tempo onde o vazio eu configuro
Apenas se refaz a cada queda,

Jogado sobre as rocas, o que sei
É tanto quanto possa em leda lei
E meu cenário em vão já se envereda.


37

Negar qualquer alento a quem se fez
Espúrio desejoso do que um dia
Ousasse muito além da poesia
E nisto se roubasse a sensatez,

O canto noutro engodo agora vês
E sei do meu momento em fantasia
No quanto cada passo não traria
A luta por total estupidez,

Respaldos do passado e sem futuro
Ainda quando vejo eu asseguro
O mundo aonde o tanto diz do nada,

A luta sem sentido e sem razões
Aonde o quanto resta decompões
Não deixa a sorte audaz e desejada.

38

Rescaldos do que fui e nada vinha
Somente a mesma cena e nela eu traço
A vida sem saber deste cansaço
E mesmo da esperança mais daninha,

A luta que pensara ser só minha
Agora esboça o rumo onde desfaço
O velho caminhar e noutro passo
A queda sem proveito se avizinha,

Marcante sensação de medo e caos
Os dias com certeza sendo maus
O cais já se distando deste olhar,

E nada do que eu veja me redime
Do tanto que desejo mais sublime
E nunca pude mesmo desenhar.


39

Apresentando o fim a cada sorte
Disperso este momento aonde eu pude
Após perder inteira a juventude
Sem nada que deveras me conforte,

O sonho se presume e enquanto aborte
Não deixa que se vele e nos ilude
E marca com terror cada atitude
Deixando para trás apenas corte,

Somando o que hoje tenho e não tivesse
A mera solidão se traz em messe
E o vento se dissolve no vazio,

Ainda quando quero acreditar
Não tendo nem sequer onde pousar
Um novo desenhar em vão eu crio.


40


Não tento imaginar o quanto possa
A vida sem sentido e sem meu cais
E nisto mesmo expondo aos temporais
A sorte que pudera ser só nossa,

Vestindo o quanto tente e já se apossa
Do verso onde desejo muito mais
E sei do corvo quando em nunca mais
A senda se perdendo nada endossa,

Apenas apresente a vida assim,
Iniciando agora o mero fim
Marcando com terror o que inda sobra,

Do tempo desenhando em cada dobra
Apreços onde o nada mais se via
Seriam erros frágeis, fantasia...


41

Encadeando versos e sonetos
Pousando no que fui e não seria
Ou mesmo retocando a fantasia
Enquanto novos tempos ditam guetos

E neles outros tantos são meus passos
Envoltos pelas brumas, pelos sóis
E tantas ilusões sempre destróis
E nisso os meus anseios são devassos

Ou meras emoções de uma criança
Jogada pelas beiras das estradas
E nelas outras tantas desejadas
Aonde uma onda imensa não me alcança,

O passo se presume em tom diverso
E nisto para o sonho, inútil, verso.

42

Ao represar inteiro o sentimento
Erguendo o velho brinde a quem se fez
Além da mera espúria estupidez
O tempo noutro tempo eu alimento,

E bebo do passado e estando atento
Ainda quero mais que a lucidez
No passo sem sinal do quanto vês
O meu anseio bebe inteiro o vento,

Não pude acreditar em melhor sina
E tanto quanto a vida ora se inclina
Deitando esta mortalha na vereda,

Ainda que deveras tente além
O mundo quando muito me contém
E nada mesmo o sonho se conceda.



43

Negar o quanto da alma se entregara
Depois de tanto tempo em leda espera
É como desmentir a primavera
E crer na estupidez desta seara,

A vida se desenha e se escancara
Após cada momento e noutra esfera
Agigantando o passo destempera
Marcando o quanto a sorte desampara,

Não vejo tão somente o quanto quis
E sei do meu momento onde infeliz
Encontraria apenas solidão,

Dos tantos erros quando mais enfrento
Sanando dentro da alma o imenso vento
Os dias mais doridos se verão.


44

Ao azular o céu onde pensara
Apenas na brumosa tarde eu creio
No tanto quanto possa e mesmo alheio
Ao quanto se desenha em noite amara,

A voz se aproximando bem mais clara
O tanto quanto tento em devaneio
O rústico cenário onde rodeio
Ao novo amanhecer já se prepara,

Mas nada do que eu possa acreditar
Permite novo rumo a desejar
Senão a mesma senda onde não vinha

Sequer a sensação bem mais sutil,
Do amor que na verdade quando viu,
Traçando esta esperança ainda minha.

45

Representando apenas a emoção
De quem se fez audaz e mesmo quando
A vida de tal forma transformando
Não trouxe tão somente a negação,

Ainda quando vejo a dimensão
Do vento aonde o todo se moldando
Presume outro caminho bem mais brando
Moldando finalmente o meu verão,

Apresentar após tanta saudade
Alguma luz que possa na verdade
Mudar a direção do pensamento,

Ao reaver a sorte que eu queria
E nela o presumir de novo dia
Ousando caminhar e ir contra o vento.

46

Já não me caberia nova escolha
Nem mesmo acreditar noutro momento
E quando na verdade ainda tento
O tempo sem sentido não recolha

As sortes desenhadas nesta bolha
Deixando para trás o sentimento,
E vendo o meu caminho aonde atento
O manto se produz além da folha,

Na primavera feita em esperança
O quanto da verdade a vida alcança
E expressa após a curva novo dia,

Não tento acreditar nesta ilusão
E sei das sortes tantas que virão
E nelas cada voz se moldaria.

47


A mente se abriria ao quanto venha
Depositando o sonho após o fato
Aonde na verdade o que constato
Expressa muito mais do que desdenha,

A luta quando muito desempenha
O mundo aonde o rumo que retrato
Não deixa que se veja e me resgato
Após acreditar no que convenha,

Reparo sem sentido o que se faz
E bebo da esperança feita em paz
Ainda quando traz somente um brilho,

E vendo o meu anseio sem futuro
Apenas do vazio eu me asseguro
Enquanto noutro passo agora eu trilho.


48


Em épocas diversas sonhos meus
Pudessem traduzir novo cenário
Além do mesmo engano temerário
E nele sem saber do mesmo adeus

Os olhos que pudessem quando ateus
Moldar cada momento e itinerário
Diverso do que tento em necessário
Tormento feito além de mortes, breus,

Negar qualquer anseio aonde eu pude
Vivenciar a sorte atroz e rude
Depois do quanto ilude a solidão,

Marcando com engano cada passo,
Aonde no final eu me desfaço
Encontro do vazio a direção.


49


Marcar a ferro e fogo cada passo
E nisto o que se vê não me permite
Acreditar na sorte sem limite
Aonde o meu caminho é mais escasso,

Opondo-me deveras ao cansaço
E nele cada sonho delimite
O verso aonde apenas acredite
No canto sem ternura em vago espaço,

Anseios de uma vida mais suave,
Ainda quando o tanto já se agrave
Entraves encontrando noutro instante

E sei do que se faz em rumo atroz
E bebo do passado e sei do algoz
Que a nova sorte traz e se garante.


50

Não tento acreditar no meu resumo
E bebo com temor cada aguardente
E nisto o quanto tenho e se apresente
Traduz o tanto aonde me consumo,

Não vejo da esperança o mero sumo
E brindo o que se quer e mesmo tente
Vencido caminheiro imprevidente
O manto se apresenta em velho insumo

E sei do quanto possa e mesmo tento
No prazo mais audaz contentamento
Jamais se vestiria em ilusão

Aonde nada resta do que somos,
A vida se anuncia em turvos gomos
A brisa se expressando em furacão.



Saudade do que nunca expressaria
O mundo ora perdido em tons diversos
E tento acreditar nos universos
Aonde cada passo diz sangria

Ascendo ao que deveras não viria
E bebo dos caminhos mais dispersos
Tentando acreditar em tolos versos
Marcando com temor a fantasia,

Não tendo outro momento aonde eu pude
Deixar já para trás o quanto ilude
O tempo sem proveito em vãos resquícios

E tanto dos meus dias se perdendo
No mundo aonde sou mero remendo
E nele se entranhando em precipícios


52

Não quero acreditar que noutro engano
As vias costumeiras concebesse
O tanto quanto queira e que perdesse
Ainda quando ao fim ora me dano,

Negar qualquer caminho em mero plano
E ver neste abandono o que vivesse
E quando o meu anseio convencesse
Do velho caminhar em tom profano,

Acordo sem saber do que se visse
Deixando para trás cada crendice
E nada mais audaz se poderia

Vestindo com ternura esta mentira
E quando do meu mundo se retira
Deixando tão somente a hipocrisia.

53

Ao resumir meu mundo no que tanto
Pudesse acreditar e nada vinha
Somente este temor onde convinha
O prazo se perdendo em desencanto,

Ainda quando o verso dita o canto
Remendos do que fosse a sorte minha
Encontram esta imagem mais mesquinha
E nela o que se molda em vão quebranto,

Arcando com enganos e somente
O tanto sem futuro se apresente
Marcando em discordância o que se quer,

Expressa na verdade o verso rude
E sei do quanto tenho e já me ilude
Nas ânsias mais atrozes da mulher.

54

Não tento acreditar no que não veio
E sei do desamor quando se cala
A sorte tantas vezes mais vassala
E nela o meu temor em tal anseio,

Vagando enquanto ainda devaneio
Pousando no passado e desta sala
A morte que deveras me avassala
Não deixa quanto trace em ledo meio,

Reparo cada prazo e quando sigo
Depois do meu cenário onde o perigo
Expresse a solidão de quem tentara

Ousar noutro momento mais sutil
Depois do que deveras se previu
Apenas vejo na alma a mesma escara.

55

Chagásica expressão em solitude
E nada do que tente em nostalgia
Permite na verdade o que viria,
E nisto nem o fim jamais ilude,

O mundo se aproxima e sei que é rude
O verso aonde vivo em agonia
Matando com terror a alegoria
Deixando sem saída a juventude.

Numa atitude plena em solilóquio
O sonho que se fez velho Pinóquio
Tentando que se creia no impossível,

Amar e ter apenas outro encanto,
Ainda quando vejo e não garanto
Somente este momento ora implausível…

56


Bebesse mais um gole do passado
E o mundo não teria novo rumo,
Ainda quando tento e não resumo
O verso se desenha em mero enfado,

Repare cada passo e se me evado
Do corte aonde o tanto não aprumo
Enfoco com ternura o quanto em sumo
A vida presumira outro legado,

Restauro o meu anseio em tom venal
E bebo do cenário desigual
Deixando para trás cada momento

E sigo o quanto possa e se alimento
O sonho com temor ou alegria
Saudade nos meus olhos invadia.

57


Mapeio em tons atrozes cada espaço
E vejo sem sentido o que inda bebe
A sorte sem saber da velha sebe
Aonde o meu anseio agora traço,

E nada do que pude e não desfaço
Encontra o quanto quer e não concebe
E nisto outro momento se recebe
Depois do meu anseio em ledo laço

O verso mesmo sendo leonino,
O corte no vazio onde fascino
E tento acreditar no que não veio,

A morte redimindo cada engano,
Adentro sem sentido o velho plano
E bebo o meu momento sem receio.

58

Marcar o que se possa de tal forma
E nada mais sentir senão a queda
E a vida quando muito se envereda
Deixando ora disforme a velha norma,

Depois do quanto pude e nada informa
Semente se anuncia e nada seda
Senão a mesma luz onde se enreda
Vertentes onde o passo se deforma,

O prazo terminando e nada veio
Somente o quanto pude em tal anseio
Gerado pela mansa covardia,

Um velho caminhante do passado
Ao ver o seu cenário desabado
Deveras nem um passo mais daria.


59


Impressionadamente o que se creia
Não deixa qualquer rastro pela vida
E o tanto quanto possa a já perdida
Noção deste vazio nos rodeia,

E bebo da esperança enquanto ateia
A sorte na fornalha desprendida
Na fúria mais audaz em despedida,
Toando dentro da alma a fera veia,


Já nada mais mostrasse a velha estrada
Tampouco a noite imensa e constelada
Depois da tempestade costumeira,

E quando vejo o fim da minha sina,
A vida se moldara e me domina
Enquanto uma esperança além se esgueira.

60

Não tendo qualquer chance no futuro
Encontro do passado a sombra atroz
E sei desta esperança em ledo algoz
Depois de caminhar em tempo escuro

E cevo na aridez de um solo duro
Ninguém escutaria a minha voz
Deixando cada instante e nada após
Mostrasse com certeza o que asseguro,

Esbarro nos enganos de quem tenta
Vencer a mera sorte mais sangrenta
Depois do descaminho costumeiro,

Enquanto no final a luta expressa
A solidão imensa e já sem pressa
Ainda busco cores no canteiro.
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
Leituras
1296
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/03/2011 14:19  Atualizado: 13/03/2011 14:19
 Re: UMA ESPERA EM VÃO
A ESPERA É O MOMENTO DE UM ACONTECER, DEIXO MEU ABRAÇO.

MARTISNS