Causa-me repúdio este meu corpo
morto,
desilusão de meu ser inerme,
que, para pouco mais serve,
do que ser prisioneiro de alegorias,
máscaras sobrepostas às fantasias,
que eu vou criando no escuro
do quarto, leviano e obscuro.
E tudo que reflicta meu semblante
é deselegante,
meu ser é disforme e indecoroso,
sofre de disfasia e é todo nervoso;
multidões são tremenda confusão
para o sossego da minha ilusão,
que crê num mundo mais bonito,
comigo a um canto, a conta do atrito.
Costumam dizer que sou formoso,
airoso,
palavras elegantes vindas de amigo,
que é gentil e agradável comigo;
mas a boniteza vai-se com os olhos,
como quando os melhores molhos
de flores não soubemos escolher,
e assim não colhemos o maior prazer.
Uma face que seja bonita não é nada
sem espada;
vivo enclausurado em casa enfermo,
sou um autêntico verme sem termo,
que não o de ser um vil estorvo,
negro tão negro, qual um corvo;
mas sou amigo do amigo e a poesia
deu-me algum valor, no meu dia-a-dia.
Jorge Humberto
11/03/11